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Caderno 65 anos de Dois Irmãos – Os “Guardiões do Tempo” – Jacintho Hahn

10/09/2024 - 14h04min

Atualizada em 10/09/2024 - 14h15min

Há 50 anos consertando relógios, seu Jacintho resume o trabalho a duas habilidades essenciais: Precisão e paciência (Fotos: Nicole Pandolfo)

Os “Guardiões do Tempo” de Dois Irmãos

Para comemorarmos os 65 anos da nossa cidade, recorremos às memórias e arquivos que compõem a sua história. Mas o que seria da história, se não tivéssemos o tempo como referência?
Na escala do tempo, registramos os acontecimentos com os quais construímos nossa identidade.
Há 5 mil anos o ser humano tenta controlar o tempo, desde o desenvolvimento dos relógios mais rudimentares até as engenhosas e delicadas máquinas que decoraram as paredes das casas e adornaram nossos pulsos.

Com a livre metáfora de guardiões do tempo, entrevistamos os dois relojoeiros de Dois Irmãos: Rodolpho Lauter e Jacintho Hahn. Suas habilidades de manter relógios precisos e funcionais foram essenciais para o desenrolar da nossa história. Hoje, as engrenagens foram substituídas pelos dispositivos eletrônicos e a profissão do relojoeiro transformou-se em um ofício raro que corre grande risco de extinção.

Mesmo assim, nossos relojoeiros continuam ativos e com uma demanda de trabalho considerável, provando que a qualidade dos seus serviços é reconhecida ainda hoje, não somente em Dois Irmãos, mas em toda região e além, de onde os procuram para consertar peças de valor e história inestimável.

Conheça um pouco sobre um dos nossos estimáveis Guardiões do Tempo, Rodolfo Lauter e Jacintho Hahn, no texto a seguir e no link: Caderno 65 anos de Dois Irmãos – Os “Guardiões do Tempo” – Rodolpho Lauter

“Eu vim com nada, mas sempre positivo!” Quando jovem, Jacintho Hahn buscou em Dois Irmãos a segurança para exercer seu trabalho

Por Nicole Pandolfo

Na casa da família de agricultores, em Feliz, Jacintho Hahn, ainda criança, observava o pai mexer no relógio de parede antigo, herdado do avô, com muito interesse: “De vez em quando o relógio parava. Ele tirou da parede e colocou na mesa, pegou óleo Singer, lubrificou, mexeu…”, lembra. As engrenagens na máquina encantaram não só a Jacintho, que na época tinha por volta de 9 anos, mas também seu irmão, 5 anos mais velho.

“Meu pai sempre falava que na roça não dava, tem que aprender uma profissão, então nós corremos atrás”, conta Jacintho. O primeiro a se especializar foi o irmão que aprendeu o ofício com um relojoeiro em São Leopoldo e após, passou a trabalhar em Feliz em 1969. Foi com ele que Jacintho aprendeu a profissão e foi exercê-la em Novo Hamburgo: “Mas eu não tinha condições financeiras de abrir a minha oficina, então trabalhei em fábrica de calçados, 1 ano e meio poupando. Aí aluguei uma pecinha em Canudos.” Jacintho viu o movimento na sua pequena loja crescer em pouco tempo, mas o aumento na demanda trouxe também o interesse de ladrões.

“Onde é esse Baumschneis?”

Depois de ter a sua loja em Novo Hamburgo arrombada 4 vezes, Jacintho cansou de “trabalhar só para os ladrões”. Um amigo havia lhe falado sobre um tal de Baumschneis, garantindo que lá, ele não teria esse tipo de problema. Decidido a vir para Dois Irmãos, o jovem relojoeiro precisou subir a serra antes de se instalar por aqui, devido à dificuldade em encontrar imóveis para alugar. Consertou relógios de parede na Casa de Antiguidades de Gramado até conseguir um espaço em “quartinho” numa lancheria na Rua 25 de Julho em Dois Irmãos, em maio de 1977. Nas horas de folga, ia para o interior em busca de relógios antigos para sua própria coleção.

“Eu tinha 43, mas agora tenho 28.” Jacintho expõe parte da sua coleção de relógios de parede na parede da sua loja: “Mas eu estou vendendo por falta de espaço, a minha garagem em casa está cheia!”

50 anos de profissão

Os negócios expandiram quando Jacintho alugou um espaço maior embaixo da antiga fábrica de calçados Henrich: “Lá comecei a vender joias, semijoias, relógios novos, não só oficina de conserto como antes.” Ele lembra. Jacintho desenvolveu o seu negócio, construiu casa, casou e teve filhos, agradecido ao conhecido que lhe aconselhou a mudança para esta terra: “Eu vim pra Dois Irmãos só com a minha vasilha amarela e uma malinha de roupa. Eu vim com nada, mas sempre positivo, nunca baixei a cabeça achando que não ia dar certo.”

Jacintho também lamenta não ter sucessores. Segundo o relojoeiro, o nível de atenção necessária e o desafio de lidar com peças tão pequenas e delicadas torna o ofício muito seletivo: “Tem que ter paciência!”
Aos 73 anos, seu Jacintho Hahn completa meio século atuante na profissão e garante: “Não enjoei nada!”

 

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