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DIÁRIO RURAL: tradição e força da família na produção de carvão em Linha Nova
Linha Nova – No longínquo ano de 1977 iniciava uma tradição no Canto Lippert que prospera até hoje e seguirá pelas próximas gerações. Os irmãos Adelar e Egídio Franzen mudaram os rumos da família ao voltarem seu trabalho para a produção de carvão, e, com o suporte das esposas e dos filhos, projetam o futuro através da venda do produto.
O trabalho com o carvão trouxe o desenvolvimento, beneficiando o dia a dia e melhorando a qualidade de vida dos Franzen. “A principal conquista que o carvão nos trouxe foi a condição financeira da nossa família”, afirmou Adelar. “No início, nem trator nós tínhamos. Era muito serviço no braço mesmo. Hoje já é bem mais fácil”, completou Egídio.
Hoje em dia, todos vivem na propriedade rural, que fica na Rua Canto Lippert. Ao todo, seis pessoas trabalham na produção de carvão: os irmãos Adelar e Egídio, suas esposas e seus filhos. “Aqui tem hora para começar, mas não tem hora para acabar”, disse Egídio.
Adelar e a esposa Talisse, e Egídio e a esposa Sidonia, acompanhados do novo mascote da família, Scooby
“Início foi uma guerra”
Conforme os irmãos, a mudança na área de trabalho proposta pelos irmãos, ainda na década de 70, demorou a agradar a todos, principalmente o pai de Adelar e Egídio, Erwvino Franzen. “A ideia inicial de trabalhar com o carvão foi do nosso pai, mas ele queria que não fosse a nossa principal renda, pois a família vivia do gado leiteiro”, contou Egídio. “No início foi uma guerra, mas depois que ele viu que estava dando um bom lucro e um bom dinheiro, começou a aliviar e aceitou a ideia”, prosseguiu.
A escolha por viver em função do trabalho com o carvão proporcionou o melhoria das condições financeiras da família. “A nossa primeira condução foi uma Kombi, comprada com o dinheiro do carvão. Depois veio um caminhão, e por aí vai”, disse Adelar. Segundo os irmãos, o trabalho era informal até o final da década de 80, quando veio a profissionalização, aliada ao certificado de qualidade junto à Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura.
Precursores em Linha Nova
O trabalho da família sai da propriedade embalado em sacos de dez e quatro quilos e, na estampa, o nome: Carvão Feliz. À época em que iniciaram no setor, Linha Nova ainda pertencia à sua vizinha Feliz, que emprestou o nome ao produto dos irmãos Franzen. Além disso, a família ainda foi uma das precursoras no setor tanto na Feliz, como, consequentemente, em Linha Nova. “Depois de nós, no mínimo sete produtores começaram a trabalhar com o carvão só aqui em Linha Nova”, comentou Egídio.
Carvão é queimado dentro dos oito fornos que tem na propriedade
Estrutura
Atualmente, a propriedade conta com oito fornos para o preparo do produto. No espaço, a lenha chega a ficar de cinco a seis dias queimando até virar o carvão, ser ensacado e distribuído na região. Conforme os irmãos, o apoio dado pela Prefeitura de Linha Nova é muito importante para o crescimento da família no setor. “A administração nos dá muito incentivo, principalmente buscando a areia específica para a construção dos fornos e fazendo a terraplanagem”, destacam.
Coronavírus, mercado e estiagem
As principais vendas do Carvão Feliz são para estabelecimentos comerciais de Novo Hamburgo e da região do Vale do Sinos. Um dos principais assuntos do momento, a crise causada pelo coronavírus, que impacta em tantos outros setores, ainda não refletiu tanto no carvão, segundo os irmãos. “Nós achávamos que ia cair bem mais. Teve uma queda nas vendas por duas semanas, mas até que está bom o setor. O pessoal está em casa e não deixa de fazer seu churrasquinho”, contou Egídio.
Um dos principais inimigos nos últimos tempos tem sido mesmo a estiagem. Conforme Adelar, a seca tem complicado na produção, pois impacta na qualidade da lenha utilizada. “A madeira muito seca deixa muito pó e produz menos carvão. Têm gente que coloca junto no saco para fazer peso, mas isso não é o correto”, comentou.
Muga e Pigo dão sequência ao trabalho iniciado pelos pais
Sucessão rural
Adelar e Egídio veem a tradição da família sendo repassada aos poucos para seus filhos, os primos Samuel, o Muga, de 23 anos, e Jeferson, o Pigo, de 26 anos. Conforme os irmãos, surgiram dos próprios descendentes a vontade de seguir trabalhando com o carvão. Além de trabalharem na produção, Muga e Pigo também realizam serviços de transporte da lenha e dos sacos do produto já pronto. “Hoje, se não fosse pelos guris, nós estaríamos quase parando, porque é uma atividade que cansa. Mas eles pegam junto e tocam o negócio da família”, destacou Egídio. “É uma honra para nós que eles sigam com o carvão. Eles tem tudo para levar o negócio adiante”, finalizou.