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Família de Nova Petrópolis deixará produção de leite após 50 anos

18/01/2022 - 17h14min

Pai Nésio (direita) e filho Miguel (esquerda) tocaram a produção por 50 anos e agora estão parando com o leite (Foto: Gian Wagner)

Nova Petrópolis – Mais uma família de produtores de leite está optando por parar com a atividade que, de acordo com todos os produtores que o Diário conversou nos últimos dias, está dando mais prejuízo que lucro. Romeu Miguel Thiele, de 53 anos, que assumiu a produção do pai, Albino Senésio Thiele (popular Nésio), desde 2013, vai parar com o negócio da família até a próxima semana. “Falta vir o veterinário fazer os exames [nas vacas] e depois elas já serão vendidas”, relata o produtor que acredita que até metade da semana que vem não estará mais produzindo. “O nosso medo é ter leite e não ter ninguém pra recolher”, disse referindo-se ao fato que o vizinho que produz maior quantidade já ter migrado para a empresa Tangará, do município de Estrela/RS, que está comprando leite de produtores de Nova Petrópolis desde dezembro do ano passado.

Miguel conta que as dificuldades enfrentadas pelos produtores de leite começaram ainda no ano passado, entre os meses de junho e julho. “De lá pra cá começou a aumentar tudo, os insumos, a ração, o fertilizante, defensivos e até medicamentos. Praticamente triplicou tudo”, revela o produtor que ainda conta com os aumentos na conta de energia elétrica e no combustível. “E o preço do leite, em vez de aumentar, abaixou quase R$ 0,30”, conta. Atualmente a produção da família Thiele conta com dez vacas e produz de 70 a 80 litros por dia. Em outras épocas, Miguel conta que chegou a produção diária de 220 litros.

“PRESENTE DOS NOSSOS AVÓS” – Associado desde abril de 1972, com orgulho, Nésio Thiele conta que não conseguiria abandonar a Piá. “Eu acho que não é certo [deixar de vender para a cooperativa], foi uma coisa dada de presente pela Alemanha ao Brasil. Nossos avós ajudaram eles lá, que estavam passando fome depois da guerra, aí depois eles decidiram presentear o povo com o projeto”, relembra o associado sobre a história da cooperativa criada para apoiar os produtores rurais.

Trabalhando no prejuízo
Outra família que trabalha no prejuízo é a do casal Irineu e Nair Krüger. “Não vale mais a pena”, relata o produtor. “A ureia era R$ 78 o saco. Agora já tá em R$ 340”, conta. Aos 73 anos, o produtor da Linha Pirajá já quase parou de produzir, e hoje segue com 50 litros por dia, com suas quatro vacas leiteiras. Krüger começou com o leite em 1971, antes mesmo da cooperativa, e se associou em 1973, há 49 anos. Aos 73, ele diz que nunca viu uma situação parecida e reforça que se não for pra cooperativa, não quer mais vender. “Se eu não vender mais pra Piá eu paro. Não quero parar. Se parar, é por causa da inviabilidade da atividade porque sempre no prejuízo não dá mais”.

Medo de retaliação
Há ainda produtores que querem parar de trabalhar com a Piá, mas têm medo das retaliações que possam ocorrer por parte da Diretoria da cooperativa. Um caso que está sendo visto como retaliação pelos associados é o de uma funcionária da Piá que teria sido demitida no dia seguinte a sua família começar a vender leite para a empresa Tangará.

Racionando alimento
Com cinco vacas, sem silagem e sem milho, o produtor Luís Thiele relata que as vacas estão 30% menores do que deveriam. Isso ocorre por causa da falta de alimento para os animais. “Não tem trato, o milho não cresceu, [a plantação] já era pra estar alta”, relata. Ele conta que precisou diminuir o trato dos bichos para conseguir mantê-los. Luís também é apicultor e assumiu o negócio do leite que era do pai, falecido há três anos.

Concorrência de mercado
Em Nova Petrópolis a Piá já começou a perder produtores para outras empresas, mas a situação não ocorre apenas no município. Outras duas cidades que têm produtores de leite associados à cooperativa, como Lajeado Grande e Taquara, também já estão sendo concorridas. Em Lajeado Grande, quem estaria recrutando os produtores da Piá seria a Santa Clara. Já em Taquara, a empresa Languirú é quem teria começado a procurar os produtores de leite.

Reunião secreta
Uma reunião com representantes de diversas entidades, entre elas Fetag, Sindicato, Prefeitura e Piá, foi realizada na manhã de terça-feira, 18. O Diário tentou participar da reunião, mas foi vetada a entrada da imprensa. Também foi repassado ao Diário, pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Petrópolis e Picada Café, Ari Boelter, que foi combinado em reunião que não seria repassada nenhuma informação ao Diário ou outros veículos de comunicação. Nesta reunião a presença do presidente da Piá, Jeferson Smaniotto, era esperada mas não foi confirmada. Ainda conforme o presidente do Sindicato, a reunião teria sido “boa”.
Já uma outra reunião com os associados foi convocada pela Piá e os produtores de leite foram convidados a participar. Não foi adiantada a pauta da reunião, apenas que será no dia 24 de janeiro (próxima segunda-feira), na Asespiá.

 

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