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Os 70 dias de luta da Nadia: “Posso dizer que passei os piores e melhores dias da minha vida neste Hospital”
Por Cleiton Zimer
Santa Maria do Herval – Ademir Zahler esteve ao lado da esposa, Nadia Bartzen Zahler, durante os 70 dias em que está lutou contra a Covid-19 e suas sequelas.
Ele relatou, emocionado, os dias de luta ao lado da companheira que ficou entre a vida e a morte depois de contrair a Covid-19:
“Foram os dias mais difíceis da minha vida. Conheço a Nadia há 30 anos e semana que vem, no dia 28 de agosto, vamos completas 28 anos de casados; de um casamento muito feliz onde fomos abençoados por Deus com duas filhas.
Foi muito sofrido, porque passamos praticamente 24 horas do dia juntos, trabalhando e dividindo as tarefas em casa.
Eu vivi tudo de perto. Fiz a internação no Hospital de Clínicas e, nesse mesmo dia, já comecei uma corrente de oração pelas redes sociais que foi aumentando a cada dia.
Dois dias depois da internação fui surpreendido por uma ligação da psicóloga avisando da intubação. Logo após ela fez uma chamada de vídeo para darmos apoio para a Nadia.
Foi um momento terrível e choramos muito.
Dali em diante foram 50 dias de notícias uma pior que a outra. Cada vez que tocava o celular meu coração disparava. Não deixei de ir ver ela em nenhum momento, mesmo na UTI.
No dia 24 de junho me ligaram avisando que a Nadia estava muito mal, que poderia vir a óbito naquela mesma manhã. Entrei em desespero, reuni a família e começamos a rezar intensamente.
Depois desse dia foram mais três avisos de que a chance dela ir a óbito era muito alta. Nessas três vezes eu estava lá, com ela no Hospital.
Depois de tudo isso ela estabilizou e foi melhorando. Após 63 dias ela teve alta da UTI e foi para um quarto onde eu pude, novamente, ficar com ela 24 horas por dia, auxiliar ela em tudo o que precisava.
No total foram 70 dias. Foram os dias em que mais chorei na minha vida. Posso dizer que passei os piores e melhores dias da minha vida neste Hospital. Os piores foram os dias – uns 50 – em que cada vez vinha uma notícia pior do que a outra. Mas os melhores foram quando estive lá na UTI, numa tarde e vieram me falar que ela teria alta e iria para um quarto. Daí em diante vivi os meus melhores dias.
No dia 20 de agosto recebi a notícia da alta e viemos para casa. Fomos recebidos por amigos e vizinhos e agora estamos muito felizes de novo.
Agradeço de coração a todos, a todas as orações. Eu sei que foram muitas pessoas que rezaram pela Nadia, por nossa família, para que ela vencesse essa luta. E ela venceu.
Muito obrigado a todos. Eu amo todos vocês”.
NADIA VOLTOU PARA CASA NA SEXTA-FEIRA, DIA 20 DE AGOSTO
Após 70 dias de luta contra a Covid-19 e suas sequelas, Nadia Bartzen Zahler, de 45 anos, retornou para os braços da família na última sexta-feira, dia 20. Ela foi recebida com cantos, balões e faixas por aqueles que tanto rezaram e fizeram da fé uma das principais ferramentas para enfrentar e superar este momento cheio de incertezas. Agora ela está em casa, recuperando-se gradativamente e poderá comemorar seu aniversário de 46 anos – no dia 30 de setembro – ao lado de quem ama.
“Estou me recuperando cada dia um pouquinho. Ainda não consigo caminhar porque perdi toda a massa muscular na UTI. Mas estou me esforçando na fisioterapia e logo vou conseguir recuperar tudo”, disse, muito contente por, após mais de dois meses, poder voltar para casa junto à sua família. “Agradeço, profundamente, a todos que rezaram por mim”.
Intubação logo nos primeiros dias
Nadia sentiu os primeiros sintomas da doença o dia 3 de junho. Cansaço extremo, febre, dor de cabeça e muita tosse. Seu esposo, Ademir Zahler, testou positivo no dia seguinte; Nadia foi fazer o teste no Ambulatório 12 de Maio no dia 7 de junho. “Seguiu em progressiva piora e, no dia 10, foi fazer uma tomografia onde mostrou comprometimento do pulmão”, contou a filha Larissa Zahler. Apesar de usar oxigênio a dificuldade em respirar aumentada gradativamente, o que levou a família a recorrer pela internação.
No dia 11 foi baixada no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, seguindo sempre em piora ventilatória e, no dia 13, precisou ser intubada, sendo transferida para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Seis bactérias e choques sépticos
No dia 13, quando foi intubada, Nadia necessitou da manobra de prona (quando o paciente é disposto de barriga para baixo para melhorar a oxigenação). Apresentou inúmeras complicações, principalmente pneumonias associadas à ventilação mecânica.
No dia 24 de junho teve seu primeiro choque séptico em decorrência de uma superbactéria, acometendo os rins que pararam de funcionar, precisando, portanto, de diálise contínua.
No dia 30 de junho fez uma traqueostomia com o objetivo de facilitar a chegada de ar até os pulmões.
Duas semanas depois, no dia 15 de julho, teve seu segundo choque séptico, novamente por uma superbactéria, agravando a condição do pulmão e dificultando ainda mais a ventilação, evoluindo para uma parada cardiorrespiratória no dia 18 de julho.
Durante sua internação precisou suspender a nutrição via sonda e passou a receber os nutrientes somente pela veia (nutrição parenteral – NPT) até final de julho.
Nesse período de internação teve seis bactérias, sendo quatro multirresistentes que geraram os choques sépticos.
Depois, quando acordou, não conseguia mexer nenhum membro do corpo por estar muito tempo sedada e com bloqueadores neuromusculares. Recuperou as forças gradativamente. No total, perdeu 27 quilos.
Agora Nadia está bem clinicamente. Se alimentando normalmente, conversando, e sem precisar usar o oxigênio. Ainda precisa recuperar a força pulmonar, comprometida devido a tanto tempo de ventilação mecânica. Além da força muscular, o que vai voltando com o avançar da fisioterapia.
A cada dia, um desafio
Os demais membros da família tiveram sintomas, porém, não tão graves e se recuperaram em casa. A filha Larissa conta que os 70 dias foram muito difíceis. A cada ligação a apreensão aumentava. “Nos dias dos choques sépticos eles nos ligavam e avisavam que poderia não passar daquele dia, que a chance de vir ao óbito era gigantesca. Foram dias muito tensos. A gente ficava na angústia de receber a ligação e saber novas notícias”.
Correntes de oração
Logo quando Nadia foi internada a comunidade se uniu em oração por ela. “Isso também nos dava forças”, agradeceu Larissa.
Diante da gravidade do caso, a família não esperava que ela recebesse alta tão rapidamente após sair da UTI. “Mas ela foi melhorando bastante a cada dia”.
Foi Ademir que ligou para casa, avisando que ela havia recebido alta. “Nisso já começamos a mobilização para organizar a recepção dela. Era a notícia que todo mundo estava esperando há muito tempo. Foi um alívio. Um sentimento de gratidão”, disse Larissa.
Uma luta vencida por muitos guerreiros
Foi uma luta vencida por muitos guerreiros. A família agradeceu à equipe do Ambulatório 12 de Maio, ao doutor Mauro e enfermeiro Eder. “Deram todo o apoio e ajudaram na internação. Além de, inicialmente, fazer os tratamentos que podiam”.
“Também à equipe do Hospital de Clínicas; todos os médicos, enfermeiros, técnicos. Toda equipe que não mediu esforços para atender ela, auxiliar o tempo inteiro. Principalmente o doutor Murillo, doutora Bruna e doutora Natália, que em nenhum momento desistiram dela; sempre fizeram de tudo e lutaram o tempo todo por ela”.
A família agradeceu todas as orações, enfatizando que foram muitas, desde moradores de Santa Maria do Herval, da região, do Estado, do País e exterior. “E também todo mundo que nesse tempo deu forças para a nossa família, nos apoiando, nos acolhendo. Família, vizinhos, amigos, trazendo comida, nos ajudando a passar por esse momento difícil”.
Destacaram a prontidão das 20 pessoas que, numa sexta-feira, foram doar sangue para Nadia.