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Após 15 anos, filho estará com sua mãe pela primeira vez no Dia das Mães
Picada Café – O Dia das Mães é uma data que celebra e agradece à figura materna por todo o seu amor, carinho, dedicação e cuidado dela com seus filhos e toda a sua família. No entanto, mesmo sendo celebrado todos os anos no segundo domingo de maio, passar essa data com as mães nem sempre é tarefa fácil. E quando isso ocorre pela primeira vez após 15 anos, os motivos para comemorar são ainda maiores, como o caso de Florita Schimitt, de 67 anos, com seu filho Cristian, de 44. Vivendo na Ásia desde 2008, ele finalmente voltou para casa em um domingo de Dia das Mães.
O bom filho, a casa… também deixa
Cristian Lamb começou a trabalhar cedo e aos 14 anos ingressou na Dakota. Em 2001, deixou Picada Café e se mudou a trabalho para o Ceará, iniciando a distância física na família, mas não no coração, como diz Florita. Na época, a comunicação era limitada, muito diferente dos dias atuais. Ainda assim, Cristian continuava a voltar para casa uma vez ao ano e, sempre que podia, a mãe e a irmã, Karin, também o visitavam no Nordeste brasileiro.
Porém, em 2008, após 14 anos de Dakota, Cristian recebeu uma proposta de emprego na Indonésia, e se mudou para o país asiático. A distância aumentou e a saudade rompeu fronteiras. “Foi muito difícil, a gente gosta de ter os filhos por perto. Mas se ele estava longe fisicamente, estava próximo no coração. Se os filhos estão bem, a gente está bem também”, conta Florita.
Como gerente de produtos na área do calçado, o filho tinha a intenção de permanecer no país de três a cinco anos, e depois retornar. Porém, o tempo passou e hoje os planos não são mais de morar no Brasil. Em 2018, Cristian, já casado com Reni, uma indonésia, se mudou para o Paquistão e, dois anos depois, para o Vietnã, onde vive até hoje.
Pandemia, AVC e mãe em dobro
Em janeiro de 2020, Cristian e Reni se mudaram para o Vietnã e, poucas semanas depois, a
pandemia de Covid-19 parou o mundo. Acostumado a viajar para o Brasil uma vez ao ano, assim como receber sua mãe no outro continente, Cristian e Florita precisaram lidar com o aumento da saudade pois o contato físico passou a não acontecer mais. “Esse período foi o de mais tempo sem ver minha mãe desde que fui embora. E com essa doença, a preocupação também aumentou”, relembra Cristian.
Porém, outro problema de saúde atingiu a família, tornando a união ainda mais necessária. Karin, à época com 38 anos e mãe de Clara, que tinha apenas 10 meses, sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e passou mais de um mês hospitalizada. “Os médicos disseram que eu não sobreviveria e, se sobrevivesse, eu teria sequelas”, comenta Karin, hoje praticamente 100% recuperada.
Sem andar, falar ou poder fazer qualquer atividade básica, Karin voltou a ser criança e precisar dos cuidados da mãe. “Ela precisou reaprender a fazer tudo, era realmente como ter duas crianças em casa”, explica Florita.
Esporte como forma de incentivo
À distância, Cristian não podia fazer nada e as restrições em relação à pandemia eram muito mais severas no Vietnã do que no Brasil, a ponto de poder ser preso simplesmente por estar na rua. Por conta disso, e a irmã correndo riscos de morte, o estresse veio à tona e começou a afetar seu psicológico. Sem poder correr dos problemas, passou a correr como forma de terapia. “Iniciei correndo todo dia na esteira após o trabalho. Depois fazíamos (ele e a esposa) caminhadas diárias nas ruas e, aos poucos, comecei a ter gosto pela corrida. É como se os problemas desaparecessem”, afirma.
Então, em março de 2021, correu sua primeira meia maratona. Foram 21 km em 1h50m. Na semana seguinte, participou de uma corrida de 10 km, ficando em 10º lugar. Desde então, já correu mais de 5 mil quilômetros, o que o ajudou com seu drama familiar, assim como serviu de inspiração para a recuperação da irmã. Neste ano, no dia 8 de janeiro, correu sua primeira maratona na vida, no Vietnã. “Meu primeiro objetivo era completar os 42 km, o segundo era correr abaixo das 4 horas. Quando passei pelo km 35, começou a ficar difícil, nos últimos dois eu caminhei, mas atingi os objetivos”, celebra Cristian.
Em Picada Café, a rotina de caminhadas e corridas, inclusive com a mãe, permanece. “Nós caminhamos do Travessão (Dois Irmãos) até o Santuário Padre Reus, em São Leopoldo. Foram 23 km”, conta Florita com satisfação.
O Dia das Mães
Diferentemente de 2001, quando Cristian foi para longe pela primeira vez, hoje a comunicação é muito mais acessível, o que dificulta agora é o fuso horário, pois Vietnã está 10 horas a frente. Então, duas vezes ao dia a família costuma fazer videochamadas. Clarinha, agora com 3 anos, já aprendeu algumas frases em inglês, assim como ensina o português à tia Reni.
Florita e Karin conheceram a vida de Cristian na Indonésia, mas ainda não foram ao Vietnã, viagem que está sendo preparada para o ano que vem, levando Clara pela primeira vez. Em 2014, durante o Dia das Mães no Brasil, Florita estava com o filho, mas na Indonésia. Agora, será a primeira vez em que ele estará em casa para a data após uma década e meia.
Para o domingo, eles planejam um almoço especial em algum restaurante da região. Depois disso, na terça-feira, 16, Cristian e Reni retornam para casa. A saudade voltará, mas na bagagem estarão levando um coração renovado, cheio de amor materno. Feliz Dia das Mães!