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Conheça Maria Wendling, uma das primeiras moradoras do Vale Esquerdo em Dois Irmãos

09/09/2022 - 11h15min

Atualizada em 09/09/2022 - 16h46min

Anna, Maria e Maria Lúcia em frente a casa de 1933. Créditos: Geison Machado Concencia

Por Geison Machado Concencia

Dois Irmãos – Maria Wendling, 86, foi moradora do Walachai, mas veio para Dois Irmãos quando era jovem para criar os filhos. Ela perdeu a mãe precocemente, quando ainda era muito nova, e se viu na obrigação de cuidar de seus irmãos e a trabalhar na roça.

Maria teve três filhos no Walachai, a partir de então, ela e seu marido, decidiram ter suas próprias terras, já que onde moravam havia outros familiares e a propriedade estava ficando pequena. “Decidimos andar com nossas próprias pernas,” relembrou Maria.

Quando Maria chegou em Dois Irmãos, em 1959, estava grávida de sua filha mais nova, Anna Guilhermina Wendling. Eles se mudaram para uma casa que foi construída em 1933, e tiveram que fazer algumas reformas para deixá-la em dia. Maria já tinha o filho mais velho, o padre Paulo, Geraldo e Maria Lúcia. Depois de Anna veio Pedro, Ricardo e Jonas, que faleceu aos cinco anos.

A família teve que trabalhar para conseguir pagar as terras onde moravam. Acordavam cedo, plantavam, criavam animais, faziam chimia para vender e tudo que era possível fazer em sua propriedade que fica no Vale Esquerdo.

 

VIDA NA ROÇA

 

O trabalho na colônia, além de sustentar a família, também serviu para pagar as prestações dos 10 hectares de terra que compraram inicialmente. Depois que quitaram as parcelas da propriedade e à medida que a família crescia, conseguiram aumentar a casa onde Maria mora até hoje, sobre os cuidados da filha Anna que durante muitos anos foi enfermeira no Hospital de Dois Irmãos junto com a irmã Maria Lucia, que exercia a mesma profissão.

A família de Maria Wendling na propriedade rural em que moravam no Vale Esquerdo. (Foto: Arquivo Pessoal)

A VIDA EM DOIS IRMÃOS

 

Quando a família Wendling veio para a cidade, não existiam ruas, apenas trilhos. Essa condição dificultou, principalmente, o deslocamento dos filhos até a escola. Maria comentou que aconselhava Anna e Maria Lucia a nunca conversarem com ninguém desconhecido. A dica da mãe foi crucial para evitar que a filha mais nova não fosse sequestrada no caminho para a Imaculada Conceição, pois certa vez, um carro parou ao lado de Anna e ofereceu carona para a menina que não aceitou, por lembrar dos conselhos da mãe.

Todos os filhos de Maria Wendling, Paulo, Geraldo, Maria Lúcia, Anna, Pedro,, Ricardo, e Jonas (FOTOS: Arquivo Pessoal)

 

INCENTIVO DE MÃE

 

A família não tinha carroça, muito menos trator. Portanto, muito do que carregavam tinha que ser no braço por morros. Outra dificuldade era a luz, pois não tinham. Não havia nem rede elétrica que passava por perto. Ao cair da noite, principalmente no inverno, tinham que andar pelo mato, sem conseguir enxergar. A água era de poço. Maria relembra da dificuldade para evitar que o leite estragasse. Ela conta que acordava de madrugada para deixar os litros armazenados na água fria do poço e, assim, evitar o desperdício.

Maria se surpreende em ver como as coisas mudaram para os seus netos. Hoje, “ tem ônibus que levam as crianças para a escola,” disse Maria, o que não era uma realidade nos primeiros anos que morava na cidade.

A Maria foi muito ativa e passou o espírito trabalhador aos filhos. As filhas comentam que ela sempre estava procurando algo para fazer, “uma mulher extremamente determinada,” comentou a sua filha Anna.

Os filhos estudavam meio turno no colégio Imaculada Conceição e depois ajudavam os pais no trabalho da colônia. A mãe, Maria, acreditava tanto no potencial do trabalho na roça, quanto na educação. Ela ensinou os filhos a se dedicarem ao máximo nos estudos, a ganhar o mundo, mas sem deixar a família. Mesmo não sendo ricos, um dos filhos, padre Paulo, fez faculdade e as duas filhas fizeram enfermagem. Na época em que estudar era muito difícil.

O material escolar também foi um desafio, pois não era barato. Mas Maria, por acreditar que os filhos deviam estudar, nunca deixou faltar os itens didáticos. Cada linha do caderno devia ser preservada, somente para o conteúdo escolar, por isso ela ficava brava se vinham reclamações de professores no material. “Quando alguém não fazia o deveres de casa, o professor colocava anotações, como forma de punição, pois na época, não era barato para as famílias material novo,” comentou Maria.

 

Maria Wendling no lançamento do livro do filho, padre Paulo Wendling

 

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