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“Cê não merece palmas, Augusto — merece o mundo inteiro”; Após enfrentar câncer e desistir da música, uma fagulha de fé traz cantor de ‘Dona Chica’ de volta

30/05/2025 - 06h00min

Atualizada em 01/06/2025 - 12h25min

Augusto passou por cirurgia para remover tumor no ano passado; desistiu da música por conta do tratamento e, agora, retorna com o grande sucesso Dona Chica, ao lado de Luan Pereira.

Quando a doença voltou, ele calou a voz. Abandonou o palco, desligou os microfones; a dor ocupou o espaço que antes era da música.

O artista, que por tantos anos transformou sentimentos em canções, agora precisava escutar o próprio corpo, lutar pela própria vida. E foi o que fez.

Mas a alma de quem nasceu para cantar não se cala. Ela apenas repousa. Espera o tempo certo. E um dia, quando menos se espera, ela reaparece — como se nunca tivesse partido.

Na noite de ontem, 29, Augusto Knob, hoje com 29 anos, natural de Dois Irmãos, no interior do Rio Grande do Sul, voltou. Voltou com a mesma canção que o fez conhecido no Brasil, mas agora com uma nova história, um novo significado e um novo nome artístico: Dávila.

O relançamento de Dona Chica, agora com participação especial do cantor Luan Pereira, é mais que música. É sobrevivência. É milagre. É renascimento.

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No refrão da música que mudou sua vida, ele canta:

“Cê não merece Palmas, merece o Tocantins inteiro.”

Mas depois de tudo o que viveu, Augusto não merece só o Tocantins. Ele merece o mundo inteiro.

TRAJETÓRIA DE LUTA

A trajetória de Dávila é marcada por coragem. Em 2019, ainda jovem, ele foi diagnosticado com um tumor cerebral. Passou por cirurgia e se recuperou. Ao lado de Rafael, seguiu com a dupla Augusto & Rafael, mesmo diante das incertezas.

Durante anos, a dupla percorreu bares e pequenos eventos, enfrentando as dificuldades de quem insiste na arte num país onde poucos escutam — até que muitos escutem. Havia momentos em que pensaram em desistir. Mas não desistiram.

Até que, em 2023, veio a virada. A canção Dona Chica viralizou com um empurrão essencial da noiva de Augusto, Luana Abbeg Eidt, que pediu nas redes: “ajudem a viralizar a nova música do meu noivo”. A resposta foi imediata e arrebatadora.

O Brasil inteiro ouviu. A agenda de shows se encheu. A carreira deslanchou. A música se espalhou por todos os cantos, levando o nome da dupla e a história de superação para além das fronteiras do Rio Grande do Sul.

SEM TRÉGUA

Em maio de 2024, Augusto e Rafael se mudaram para o Paraná, buscando expandir ainda mais o alcance da dupla. Mas a vida não deu fôlego: no dia 31 de maio, em cima do palco, Augusto sofreu uma convulsão. O show parou. O coração disparou. E os exames não deixaram dúvidas: o tumor havia voltado.

Augusto passou por uma nova cirurgia em junho de 2024. Inicialmente, o quadro era bom. Ele recebeu alta e voltou para casa. Mas poucos dias depois, começaram as dores de cabeça — intensas, persistentes.

Foi Luana quem percebeu algo ainda mais alarmante: o rosto de Augusto estava caindo. Em um dos relatos mais fortes da sua trajetória, ela descreveu o que viveram:

“Ele estava bem, tinha recebido alta. Mas no mês seguinte começou a sentir fortes dores de cabeça. Voltamos ao hospital, ele recebeu medicação e foi pra casa. Pouco depois, percebi que o rosto dele estava caindo… Acendeu um alerta. Tiveram que operar de novo para ver o que estava acontecendo.”

A situação era crítica.

“Ele estava bem, mas precisávamos rezar por um milagre… Nunca vi um cérebro daquele jeito [diziam os médicos]. Se for o que estamos pensando, talvez não dê tempo.”

Mas, contra todas as expectativas, veio o milagre.

“Ele saiu da UTI, apresentou melhoras. Não existem explicações nos livros de neurologia para o que aconteceu.”

Mesmo após essa sequência dramática, Augusto insistiu. Voltou aos palcos com a mesma coragem que o havia trazido até ali. Lançou as músicas “Não é por acaso” e “Duvido”, e seguiu tentando viver, cantar, existir.

Em outubro de 2024, mais um capítulo: Augusto e Luana descobriram que estavam esperando um bebê. A notícia chegou como alento. Mas durou pouco. Sem batimentos. Sem chances.

“Talvez não era a hora ainda”, escreveu Luana.

Janeiro de 2025 foi o marco de mais uma fase: Augusto iniciou sessões de radioterapia e quimioterapia. Os efeitos do tratamento foram pesados. O corpo cansava. A mente oscilava. E a música, que sempre o guiou, começou a silenciar.

O FIM…

A última apresentação da dupla aconteceu em 19 de janeiro, na Festa da Melancia, em Parobé. A despedida oficial veio em 10 de fevereiro de 2025, com uma nota publicada nas redes sociais:

“A dupla Augusto & Rafael está encerrando suas atividades. Esta decisão foi tomada por Augusto, que precisará dedicar sua atenção especialmente à sua saúde e bem-estar. Agradecemos imensamente o carinho de todos ao longo desses 8 anos de trajetória.”

Os fãs, especialmente os da região, sentiram como se tivessem perdido um irmão. Muitos acompanharam tudo desde o início. Outros, desde a virada com Dona Chica. Todos sabiam que aquilo não era só uma dupla — era uma história real de luta.

…O RECOMEÇO

E então, em maio de 2025, quando tudo parecia encerrado, surgiu um novo personagem: Luan Pereira.

Ao conhecer a trajetória de Augusto, Luan não hesitou:

“Após um câncer, meu amigo tinha desistido da música… mas Deus tocou no meu coração que ele tinha que recomeçar!”

Foi com esse impulso que nasceu o relançamento da música Dona Chica.

Sem empresário. Sem escritório. Sem gravadora. Só Augusto, Luana, os amigos — e a fé.

“Apostamos todo nosso dinheiro neste lançamento. Não rasgamos dinheiro à toa. Sabemos o quanto vale cada centavo”, contou ele horas antes da estreia.

A nova versão de Dona Chica foi lançada às 21h do dia 29 de maio, nas plataformas digitais. O clipe oficial foi publicado sexta-feira (30), às 12h, no YouTube.

A resposta do público foi imediata. Uma chuva de vídeos, comentários, homenagens. O Brasil ouviu de novo. Mas agora não era só uma música — era uma biografia cantada.

Logo após o lançamento, Augusto compartilhou:

“Eu estava numa pressão que vocês não têm ideia. Mas a vida é assim. Pressão é um privilégio. E só dessa música estar no mundo, já me sinto realizado.”

Hoje, Dávila vive em Londrina, no Paraná. Carrega no corpo as marcas de tudo que enfrentou. Mas na voz, carrega algo ainda maior: vida.

E quando canta, não é só arte.
É resistência.
É amor.
É fé em estado bruto.

Augusto, você não merece palmas. Você merece o mundo inteiro.

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