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Diário Rural: aos 61 anos, produtor de Dois Irmãos se dedica totalmente aos trabalhos rurais

“Eu sempre quis honrar minhas raízes”
Por Carla Fogaça
Dois Irmãos- Ao longo da vida o produtor ou mini-produtor, como ele se refere, Nilson José Olbermann, 61 anos, recebeu diversas oportunidades profissionais, onde sempre esteve no meio da agricultura, embora nem sempre 100% dedicado a ela. Nasceu no alto do Morro dos Bugres, quando a localidade ainda pertencia a Dois Irmãos, viveu com os pais e seis irmãos.
Nilson relembra da infância com um olhar orgulhoso, o pai pegava pesado na roça, plantava batata e a mãe auxiliava, mas cuidava mais da parte religiosa da família. “Plantávamos e colhíamos cerca de 2 mil mudas por ano, tudo a mão”, recorda. De acordo com ele, o forte era a batata, as a família cultivava feijão, tinha porco e vendia banha, leite entre outros produtos.

Nilson diz que sempre quis continuar o trabalho do pai
Tecnologia usada
Lá por 1968 e 1969 a família de Nilson foram um dos primeiros agricultores a usarem a tecnologia no plantio. “Tínhamos máquinas motosserras, proliferador, desintegrador de milho, fertilizantes e adubos, mas nossa maior tecnologia é e sempre será as mãos e a produção com qualidade”, ressalta.
Até nos dias de hoje Nilson tem algumas máquinas que considera relíquias. “Desde 77 tenho uma máquina intacta, com tudo original, até os pneus. Cuido com muito carinho e preservamos a propriedade que era dos meus pais também”, explica.

Maquinários antigos são mantidos intactos

Maquinários antigos são mantidos intactos
Época boa de plantar batatas
Segundo Nilson, os anos 60 eram bons para plantar batata, o pequeno comerciante tinha quase que 100% dos clientes. “Dava dinheiro, a gente vendia para consumidor final e para cidades como Novo Hamburgo e Porto Alegre, no Mercado Público”, conta.
Mas, mesmo com o bom retorno, os pais de Nilson começaram a se preocupar em oferecer mais para os filhos. E então, resolveram comprar terra em Dois Irmãos e em 1971 mudaram para a cidade. “Aqui pudemos estudar e logo veio as fábricas de calçados e muitos filhos de agricultores foram trabalhar nas fábricas”, explica.
Oportunidade de escolher
Na escola, Nilson realizou um trabalho onde a pesquisa foi feita dentro de uma fábrica. “Foram três dias lá, e eu só pensava que não queria aquilo. Era duro, pois eu era o único aluno de uma turma de 100 e poucos que era colono. Era como uma rejeição, usava um chinelo Havaianas com chulé”, recorda emocionado.
Enquanto os outros colegas tinham tênis, pois trabalhavam nas fábricas, Nilson não tinha, mas tinha algo que não estava disposto em abrir mão. “Eu não me importava de não ter muito dinheiro, mas preferia trabalhar na roça, limpando fossa, onde eu era livre, do que ficar dentro de uma fábrica 9 horas por dia. Eu não seria feliz”, ressalta.
Honrar as raízes
Nilson, após o estudo, teve a certeza de que não queria trabalhar em fábrica. “Eu sempre quis honrar minhas raízes e dar continuidade no trabalho do meu pai. Eu e meu irmão trabalhamos com ele, quando o pai saia era tudo com a gente. Fiz essa escolha totalmente pelo emocional”, conta.
Depois de uns 10 anos morando no Vale Verde eles tiveram que diversificar. “Aqui o solo era diferente do que em Santa Maria do Herval e não era muito bom para batata. Foi uma época que começou a valorizar os terrenos e vender não era uma opção, então a gente começou a plantar outras coisas”, diz.
Oportunidades que aconteceram pelo destino
Mesmos sem buscar sair da roça, em 1982, Nilson foi convidado para concorrer como vice-presidente do Sindicato Rural e em 83 assumiu o cargo. “Naquela época o colono era um órfão da saúde. Aí junto com a Incra conseguimos convênio para dentista, assistência médica e cirurgias eletivas e só. Eu levava os doentes até a Santa Casa”, recorda.
Nilson ainda atual como presidente do Sindicato Rural por quase dois mandatos, onde foi chamado para gerenciar o Sicredi, em Morro Reuter. “Tudo aconteceu por acaso e me colocaram lá sem experiência para reativar a credibilidade do Sicredi e depois de uns anos fiz estudo de viabilidade para colocar um Sicredi em Dois Irmãos”. Depois de sair da gerência do Sicredi, Nilson ainda fez parte da diretoria da Pia.
O mundo dá voltas
Em 2016, Nilson disse: “Agora chega, não quero mais isso”. Conforme ele, às vezes as pessoas fazem tanto pelos outros e nada para si mesmo. “Larguei tudo e voltei a me dedicar 100% para a agricultura. Faço o que fazia em 1970” (risos).
Hoje ele trabalha em torno de 7 a 8 horas por dia na lavoura. Planta, colhe, faz a própria ração. “Eu tenho milho, pastagem, capim, selagem, girassol, para usar a semente invés da soja e por aí vai”, salienta.
Nilson diz que para não correr o risco de perder plantações, devido às secas, ele planta em duas vezes. “Eu faço tudo a mão, planto um pouco em cada tempo, assim se perder algo, não perco tudo. Alias, todos os agricultores deveriam fazer isso também”, explica.
Família que cresce
Nilson é casado há mais de 30 anos e tem uma filha que será mãe no próximo mês. “Para ela eu sempre me dediquei em deixar estudos, em dar oportunidades, pois bens materiais minha filha deve ir atrás, mas estudos eu dei”, conta.