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“Ela foi uma guerreira em todos os momentos, até o último instante”; após uma longa luta, Eveline faleceu aos 32 anos
Foi às 3h45 da madrugada de segunda-feira, 16 de junho, que Eveline Sachet partiu. Faltavam apenas dezoito dias para o seu aniversário de 33 anos. Hervalense de coração, ela faleceu na UPA de Capão da Canoa, após uma longa batalha contra um tumor cerebral, cuja luta enfrentou por cinco anos com coragem, fé e dignidade. Foi filha, irmã, amiga, profissional, madrinha, cuidadora, apaixonada por animais, por dançar, por viver — uma jovem que, mesmo diante da dor, nunca deixou de sorrir.
Desde pequena, Eveline era alegre, brincalhona, cheia de energia. Cresceu no interior de Santa Maria do Herval, no bairro Boa Vista, onde estudou até o Ensino Médio. Em 2010, a família se mudou para Capão da Canoa, e ali ela começou sua trajetória de desafios – mas também de conquistas.
SE DEDICAVA AOS OUTROS
Com dois empregos e uma rotina intensa, levantava antes do amanhecer para limpar uma academia, seguia para o trabalho principal e à noite ainda cursava Educação Física na faculdade de Osório. Chegava em casa à meia-noite, exausta, mas determinada. Trabalhava com amor. Estudava com garra. Lutava pelos próprios sonhos.
Ela encontrou na profissão o que amava fazer: cuidar do bem-estar dos outros. Foi admirada por colegas e alunos pela dedicação com que orientava, corrigia posturas e acompanhava de perto quem passava por sua orientação física. Era atenciosa, prestativa, empenhada. Até que, em 2020, a vida começou a mudar.
O DIAGNÓSTICO
Naquele ano, Eveline teve a primeira convulsão. O diagnóstico veio rápido: um tumor cerebral. A primeira cirurgia ocorreu em abril e foi bem-sucedida. Mas o alívio durou pouco. Em outubro, o tumor cresceu novamente e exigiu uma segunda cirurgia. Foi nesse momento que surgiram as primeiras sequelas — o lado direito do rosto paralisou, a fala e os movimentos ficaram comprometidos. Com fisioterapia, muito esforço e apoio da família, ela voltou a se recuperar.
Logo após, enfrentou 30 sessões de radioterapia. Manteve-se firme. Acompanhava a doença com coragem e seguia com esperança. Porém, em 2024, nos exames de rotina, descobriu que o tumor havia voltado. Em novembro, enfrentou a terceira cirurgia. A partir dali, as limitações aumentaram: a fala ficou mais difícil, a marcha se desequilibrou. Ainda assim, Eveline resistia.
Ela passou por processos de fisioterapia para recuperar o movimento no rosto, após as primeiras cirurgias.
A QUARTA CIRURGIA
Em março de 2025, foi realizada a quarta e última cirurgia. Segundo a mãe, essa foi a mais difícil. “Essa cirurgia acabou com ela”, relata Marta Sachet. “Ela até saiu razoavelmente bem da cirurgia, mas uma semana depois começou a piorar, e foi só piorando a cada dia.”
Registro de mãe e filha.
A partir daquele ponto, Eveline tornou-se totalmente dependente. Já não conseguia andar, falar, se alimentar sozinha. “Ela ficou dependente 100% de mim, mas eu fiz isso sempre com muito amor. Se ela estivesse aqui hoje, eu ia continuar fazendo com todo meu amor até onde precisasse.”
A mãe ressalta: “Ela foi uma guerreira em todos os momentos, até o último instante“.
A doença passou a debilitá-la cada vez mais – no entanto, seus sobrinhos sempre a deixavam alegre.
SEMPRE COM FÉ
Apesar dos altos e baixos, Eveline tentava manter a esperança viva. Nos momentos bons, fazia planos. Nos mais difíceis, era tomada por um pressentimento silencioso. “Às vezes ela dizia: ‘Ah, eu não vou ficar velha’”, recorda Marta. “Mas mesmo com toda a situação difícil, ela ainda fazia planos pro futuro.”
A fé sempre acompanhou a família. Marta conta que pedia a Deus, antes de tudo, a graça da cura. Mas, se isso não fosse possível, que ao menos fosse feita a vontade d’Ele — e que Eveline partisse sem dor. “Sempre pedi a graça de Deus que fosse a graça da cura, mas, se não fosse possível, que fosse feita a vontade dele, mas ao menos que ela partisse sem dor e sem sofrimento — e esse milagre a gente conseguiu. Porque ela partiu sem dor e sem sofrimento.”
APAIXONADA PELA VIDA
Eveline era apaixonada pelos seus animais. Tinha um cachorrinho que amava levar para passear. Adorava o mar. Tinha um vínculo profundo com os sobrinhos Lucca e Miguelzinho, seu afilhado. Bastava vê-los em vídeo para que seu rosto se iluminasse.
Eveline, a mãe Marta, a cunhada Daiana, o irmão Everson e seu sobrinho Miguel.
Amava dançar, estar entre amigos, rir alto. A cunhada Daiana Schuck, que também foi amiga de infância, lembra das tardes jogando cartas, das festas na Sociedade Atiradores da Boa Vista, dos bailes, dos encontros aos sábados. “Pra ela não tinha um dia ruim. Ela era sempre muito divertida, alto astral.”
Daiana conta ainda que Eveline foi quem a apresentou ao marido Everson, irmão dela. A amizade que começou na escola foi se transformando em laços familiares que resistiram ao tempo e à distância. “Mesmo longe, sempre que podíamos a gente estava lá com elas em Capão da Canoa.”
CONQUISTAS EM CAPÃO
Antes da doença, Eveline também trabalhou como cuidadora de idosos. Segundo a mãe, uma de suas maiores referências foi o senhor Antônio Mendes, que a tratava como filha. Por meio dele, a família conquistou o terreno onde ergueu, com muito esforço, a casa onde viviam. “Foi uma luta, mas também uma grande vitória. Essa família nos ajudou imensamente”, recorda Marta.
Eveline chegou a comprar seu próprio carro, símbolo da independência que tanto prezava. Com o avanço das sequelas, precisou vender, mas nunca perdeu o espírito batalhador.
Alimentava o sonho de escrever um livro com a própria história, marcada por superações desde a adolescência. “Ela sofreu muito bullying por ser mais gordinha. Passou por muita coisa. Ela sempre dizia que queria escrever um livro. Mas… não deu tempo”, lamenta a mãe.
MARCAS QUE FICAM
Formada em Educação Física, Eveline deixou marcas em todos os lugares por onde passou. No cuidado com os outros, na doçura com os sobrinhos, no amor incondicional pela mãe, no carinho com os animais, nas amizades que cultivou com lealdade. Deixou, acima de tudo, uma lição de resiliência e sensibilidade.
Seu último desejo foi que a dor não fosse o ponto final. E assim foi. Eveline partiu em paz, cercada por amor, como viveu. O velório aconteceu em Capão – onde atualmente vivia com a mãe – e, depois, no bairro Boa Vista do Herval, em Santa Maria do Herval, onde foi sepultada – onde ela cresceu e será sempre lembrada.
“Ela deixou este legado: a gente sempre tem que ajudar o próximo, o possível que a gente possa fazer”, diz a mãe.