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Em Nova Petrópolis, casal se dedica a manter vivo o espírito natalino
Nova Petrópolis – O jornal O Diário teve sua primeira edição veiculada em 24 de dezembro de 1992. Como a data pedia, matérias sobre o Natal foram destaque. Na época, a cobertura era somente na cidade de Ivoti, mas hoje, 30 anos depois, estão presentes as notícias de toda a Encosta da Serra. E se a matéria principal de três décadas atrás falava sobre as perdas das tradições natalinas, em Nova Petrópolis, um casal mantinha ela bem viva, algo que até hoje preservam.
Natal celebra o nascimento de Jesus Cristo, mas também é uma época de renovação de vida. Assim define o casal Paulo Aschau, de 70 anos, e Catarina Ansen, de 65 anos. Juntos há cinco décadas, preservam uma das principais tradições do Natal: a montagem do pinheiro e do presépio. A decoração de Paulo e Catarina não é só mais uma, ela é um verdadeiro cenário retratando um feito de dois milênios atrás, enfeitado com itens até mesmos seculares.
Montagem
Todos os anos, na semana que antecede o 25 de dezembro, Paulo e Catarina transformam a sala de sua casa, localizada na Linha Imperial, há cerca de 600 metros da Sociedade Concórdia. O pinheiro é natural, plantado e cortado pelo próprio Paulo. “Eu faço questão, mas preciso de ajuda pra trazer e colocar no lugar porque é muito pesado. Na hora de cortar, era para cair para um lado e acabou caindo sobre a plantação de tomate”, conta aos risos. A base para a árvore é feita com madeira coberta por areia e musgos regados diariamente por Catarina para que se mantenham vivos, verdes e bonitos.
A decoração possui centenas de enfeites, parte deles eram dos avós de Paulo, assim, algumas bolinhas e outros itens possuem mais de 100 anos. “Eu parei de contar quantos enfeites são quando cheguei em 300 bolinhas”, afirma Catarina. A tradição do casal é tanta, que regularmente amigos lhes dão novos itens para decorar no próximo Natal, inclusive alguns vindos da Alemanha. “Além disso, sempre recebemos muitas visitas para conhecerem nosso presépio e tirar fotos. Tinha um casal de angolanos no hotel aqui perto que achou a coisa mais linda do mundo. Eles fotografaram e disseram que fariam um cartão-postal de Nova Petrópolis”, relembra Paulo.
A origem da tradição
O amor pelo Natal vem de família. Paulo conta que desde criança sempre foi fascinado. “Era um momento em família, em que nos reuníamos em torno da árvore. Hoje em dia isso está se perdendo e aos poucos vai deixar de existir, infelizmente”. Para ele, os melhores e mais marcantes Natais aconteceram até os seus nove anos, na época em que ele acreditava que o Papai Noel era real. “Quando eu descobri que eram meus pais quem montavam o pinheiro, foi uma decepção muito grande. Eu ficava ansioso esperando eles abrirem a porta para o Noel entrar. Mas desde então, pude começar a ajudar na decoração e já faço isso há 61 anos”, recorda.
Nada ao acaso
Sem filhos, Paulo e Catarina costumam passar a noite do dia 24 sozinhos. Eles mesmos fazem a ceia e a levam para a sala onde está toda a decoração que, como dito anteriormente, é um verdadeiro cenário. Por isso, nenhum enfeite foi colocado ao acaso. Abaixo do pinheiro, por exemplo, ficam os três magos, que “percorrem” o caminho de areia até lareira, onde está o presépio do Menino Jesus. Os animais estão todos virados na mesma direção, como se também acompanhassem a procissão. “Todos os dias a gente coloca eles um pouquinho mais pra frente, assim, no dia do Natal, eles já estão todos juntos”, explica Catarina.
Paraíso particular
A propriedade onde vivem é repleta de natureza viva. Com dois grandes lagos, cheios de peixes, o local é chamado de “Paraíso” por Paulo. “Se em outra vida eu não fui ao Paraíso, nesta eu resolvi trazer ele até mim”, diz. Produtor rural a vida inteira, já foi um dos maiores fornecedores de leite da Piá, mas desde que se aposentou, dedicou-se aos cuidados com a natureza e ao meio ambiente. “Tem árvores aqui do tempo do meu avó, mas muitas delas fui eu quem plantou. Aqui tem animais que vivem livres, tem os lagos, tem sombra, tudo o que eu preciso. É o meu pedaço de paraíso”, finaliza.