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Entenda como foram indiciadas as 11 pessoas pelas mortes em Nova Petrópolis

02/09/2022 - 09h59min

Bandidos estavam fortemente armados (Créd.: Divulgação)

Nova Petrópolis – O Ministério Público denunciou uma pessoa pelo homicídio de Eduardo Miguel da Silva Delvalle, conhecido como Dudu do Vale Verde, de 24 anos, ocorrido no dia 9 de junho, e outras 10 envolvidas na execução de Raquiel Sartori, popular Chavinho, de 42 anos, no dia 14 de junho. Vários crimes foram identificados na investigação, como homicídio simples e qualificado, associação e tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, organização criminosa, receptação, entre outros.

Por homicídio simples, foi denunciado um homem de 50 anos que matou Dudu do Vale Verde. O homem não tinha antecedentes e não conhecia Dudu. No entanto, durante uma discussão entre o rapaz e Chavinho, este senhor saiu do bar para buscar uma faca. Ao voltar, deu um soco em Dudu, iniciando uma confusão generalizada, logo depois, acertou um único golpe de faca no peito de Dudu, que acabou sendo fatal. Ele está respondendo ao processo penal em liberdade.

Dudu tinha 24 anos e Chavinho 42 (Créd.: Divulgação)

Estão presos neste momento, o irmão e um amigo de Dudu, além de dois dos atiradores. Assim, dos onze indiciados, sete são por homicídio, três por tráfico de drogas e uma pessoa por falso testemunho. Ainda, destes onze, dois estão foragidos. Cinco respondem em liberdade, sendo a maioria mediante a habeas corpus concedido pela Justiça.

Homicídio qualificado

Três homens, de 20, 25 e 28 anos na época, foram denunciados por homicídio qualificado. Eles foram identificados como os autores dos disparos que mataram Chavinho. Uma quarta pessoa que dirigia o veículo e ficou no carro esperando para a fuga não foi identificada. Aparecem ainda como coautores do homicídio, a viúva e um amigo de Dudu que estavam com ele quando foi morto, além de um meio-irmão de Eduardo.

Investigação

De acordo com a Polícia Civil, Dudu atuava como o “gerente local” do tráfico de drogas em Nova Petrópolis, associado à facção criminosa Os Manos. Com sua morte, a viúva assumiu o lugar de Dudu na facção e, com objetivo de promover vingança, ela, o amigo e o meio-irmão de Dudu contataram os comparsas da facção, dando informações necessárias para matar aqueles que julgavam responsáveis pela morte de Eduardo.

No dia 12 de junho, o meio-irmão foi flagrado por câmeras de videomonitoramento em Campo Bom e Novo Hamburgo quando ele foi se encontrar com um “gerente geral” da facção para pedir permissão para o homicídio. No dia seguinte, ele e a viúva de Dudu desativaram seus chips de celular para evitar futuros rastreios.

Já no dia em que Chavinho foi executado, o amigo passou de carro por diversas vezes em frente ao bar para se certificar de que o proprietário estava no local, e auxiliar os executores a chegaram lá. Mesmo que não tenha sido Chavinho o homem que matou Dudu, os familiares entendiam que ele era o responsável pelo início da briga que culminou na facada.

Execução

Após decisiva participação da viúva, do amigo e do irmão, os executores chegaram ao bar usando balaclavas (toucas ninjas), luvas, coletes balísticos e fardas de estilo militar, vindos da grande Porto Alegre em um veículo Hyundai IX-35, placas IZT2F01. Chavinho foi retirado à força do balcão e colocado deitado no chão. Em seguida, foi alvejado com, no mínimo, 39 tiros de armas de fogo, longas e curtas, tipo fuzil e pistola. Em seguida, fugiram do local.

O crime foi cometido por motivo torpe, por vingança em razão da morte de Eduardo, mediante recurso que impossibilitou a defesa, pois Chavinho deparou-se com três indivíduos fortemente armados, sendo colocado deitado e executado por vários disparos na cabeça.

Tráfico de drogas

As investigações mostram que entre os dias 10 e 15 de junho, a viúva, o cunhado e os pais de Dudu estiveram envolvidos com o tráfico de drogas. Foram encontradas duas porções de cocaína, pesando 293 gramas, no telhado da varando dos pais, quando a Polícia Civil cumpria mandados de prisão temporárias contra os familiares por conta da morte de Chavinho. O pai de Dudu foi preso em flagrante por tráfico, admitindo que a droga era de seu filho. Nos interrogatórios, os pais disseram saber que o filho pertencia à facção.

Mensagens extraídas de um celular apreendido mostram que a viúva passou a coordenar a venda e a cobrança das dívidas de drogas que as pessoas tinham com Dudu. Também descobriu-se que o cunhado do rapaz, companheiro da irmã de Dudu e morador de Taquara, no Vale do Paranhana, havia recém completado 18 anos mas estava envolvido com o tráfico desde a menoridade. Nestas mensagens, o cunhado mostra preocupação à viúva em relação a dois quilos de pó, que era o total da droga que foi apenas parcialmente encontrada pela polícia na casa dos pais.

Associação para o tráfico

A Polícia Civil identificou que antes e depois da morte de Dudu, os familiares acima citados haviam aderido à mesma facção para praticar o tráfico de drogas.

Lavagem de dinheiro

Entre 2018 e 2022, Dudu, sua esposa, mãe, o amigo já citado, uma outra mulher de 29 anos e outros indivíduos não identificados aplicavam fraudes em Nova Petrópolis e Caxias do Sul, conhecidas como “golpe da OLX”.

A investigação identificou que a viúva, dentre outros valores, recebeu em sua conta bancária R$ 21.332,00 e o amigo, dentre outras quantias, recebeu em sua conta R$ 26.665,00. Além disso, ele comprou um Hyundai I-30, avaliado entre 54 e 72 mil reais. Já na conta da mãe de Dudu, foram sequestrados R$ 56.500,00. Valor, segundo a investigação, incompatível com os ganhos da sua pequena loja de roupas. Assim, a polícia identificou que essa conta era usada para o “branqueamento” do dinheiro do tráfico.

Organização Criminosa

Os três atiradores foram identificados como integrantes do terceiro escalão d’Os Manos, sendo eles “soldados do crime”. “Para cumprir as ordens que recebem do escalão superior, recebem armamento pesado, coletes balísticos, “fardamento”, o que demonstra o nível de organização e aparato financeiro aportado pela facção nesses grupos de extermínio”, diz a denúncia.

Um destes atiradores cumpria pena em liberdade por diversos crimes, inclusive por homicídios como o de Chavinho. Ele usava tornozeleira eletrônica e a violou para ir a Nova Petrópolis. Assim, foi identificado e está preso. Os outros dois associaram-se para executar Chavinho, além dos crimes de receptação, adulteração de placa de veículo e porte ilegal de armas.

Receptação de veículo

Os três atiradores foram denunciados também por receptação de veículo por usarem um Hyundai, IX-35 roubado em Novo Hamburgo no dia 4 de abril. Este veículo foi apreendido no dia 20 de junho, em Campo Bom, e devolvido ao dono. Foi constatado que os criminosos usaram este carro para ir a Nova Petrópolis, mas colocaram placas falsas.

Carro usado pelos criminosos na execução de Chavinho (Créd.: Divulgação)

Receptação de pistola

Com eles havia também uma pistola, marca Taurus e calibre .380 que foi roubada em 2018, em Canoas. A arma foi recuperada no dia 15 de julho, quando a polícia encontrou um esconderijo da facção em Campo Bom. Por fim, foram denunciados por Porte Ilegal de Arma de Fogo.

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