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Jovens enxergam no meio rural seu lugar para crescer em Herval e Morro Reuter
Por Cleiton Zimer / Rodrigo Thiel
Santa Maria do Herval / Morro Reuter – É preciso acordar cedo, às vezes até de madrugada. Seja no frio ou no calor é necessário ir, pois lá fora há uma lida, uma obrigação a ser cumprida. Faça chuva ou faça sol, essa é a rotina dos jovens que escolheram por permanecer no interior e investir na avicultura, mantendo viva a luta e a tradição das famílias; apostando em projetos que estão sendo fomentados pelas empresas e para os quais há uma significativa projeção de crescimento econômico diante da demanda.
Em Santa Maria do Herval, no bairro Amizade, a jovem Suelen Michel, de 21 anos, deu continuidade ao trabalho da família. Desde os 15 anos, depois que seu pai Vanderlei faleceu em decorrência de um acidente de carro, ela teve que tomar uma decisão e optou por perpetuar o que seu avô, Rudi, e pai já tinham construído. “Eu tinha dúvidas se continuava ou não. Mas eu nasci e cresci nisso, sempre ajudei e tive interesse em continuar”, disse, afirmando que teve muito incentivo da sua mãe Fabiane e vó Elda, o que a ajudou a decidir qual direção tomar.
“É um bom rumo, porque na verdade a agricultura nunca para” – Suelen
Seguindo um caminho diferente
Suelen começou a administrar a criação de frangos aos 15 anos; hoje está com 21 (FOTO: Cleiton Zimer)
Não foi uma decisão simples, tampouco fácil. Lá, quando ainda tinha 15 anos e diante de tudo o que tinha acabado de acontecer Suelen teve que ser forte, abraçar o mundo com os que amava e seguir em frente. “É bem difícil, porque todas as minhas amigas focaram em outros negócios bem diferentes de mim. Mas não é por isso que me enxergo diferente, até me sinto especial porque não são muitos que fazem isso. Então me sinto bem especial, sabe”.
Hoje, seis anos depois, destaca que gosta de fazer o que faz e, por isso, está seguindo em frente. “Às vezes é difícil, quando o sol está muito quente é preciso trabalhar, quando está muito frio é preciso estar lá também. Às vezes não temos feriado, não temos nada”.
Questionada se tem algum outro projeto para sua vida, diz que por enquanto permanecerá assim, trabalhando com os dois aviários que já tem, junto com seu namorado Rafael Kasper, de 25 anos, o qual considera seu braço direito. Mas, ao pensar no futuro, projeta-o na avicultura. “Talvez iremos construir mais um aviário, quem sabe”.
Suelen faz de tudo. Às vezes falta força física, mas, para isso, conta com o apoio do seu namorado e juntos eles vão seguindo em frente. Os frangos permanecem por cerca de 45 dias nos aviários e, entre um lote e outro há um intervalo que varia entre uma e duas semanas. Nesse período o trabalho é ainda mais árduo, pois é necessário limpar e preparar tudo para a vinda de mais um lote.
A jovem já cuida de dois aviários e projeta construir mais um no futuro (FOTO: Cleiton Zimer)
“…a agricultura nunca para”
Hoje a tecnologia auxilia muito. “Se fosse tudo como no tempo do meu avô acho que eu não teria continuado, porque era tudo manual, tudo no braço, aí já seria muito complicado para mim. Só que foi-se inovando e, hoje, é tudo automático. É bem prático”.
Suelen também incentiva quem tem interesse em seguir no mesmo caminho. “É um bom rumo, na minha opinião, porque na verdade a agricultura nunca para. Tem muita gente que precisa ter o alimento de cada dia”. Hoje, eles produzem para a Nutrifrango de Morro Reuter, cujos técnicos os acompanham semanalmente, trazendo orientações para aprimorar a produção. “E é na prática. Ao longo dos anos se aprende como criar frangos”.
Tecnologia no funcionamento dos aviários ajuda a manter jovens no campo (FOTO: Cleiton Zimer)
“Me vejo fazendo isso”
Bruno ajuda o pai na criação de frangos (FOTO: Rodrigo Thiel)
Em Morro Reuter, no Birckenthal, o jovem Bruno Joseph Kuntzler também está seguindo o caminho do avô e do pai na avicultura. Aos 18 anos ele ajuda diariamente na criação de frangos. Eles possuem três aviários. “Meu avô começou e, depois, meu pai continuou. Tínhamos dois aviários antigos que tiveram que ser demolidos. Aí construímos um novo e, quando começou a ficar bom, conseguimos pagar as dívidas e construímos mais um e, agora, já estamos com três”.
Bruno, que terminou o Ensino Médio recentemente, conta que nunca trabalhou com outra coisa e quer continuar trabalhando com frango. “Me vejo fazendo isso. Se for para seguir estudando, farei algo para ficar na área da agricultura”, destacou, afirmando que “não é complicado de trabalhar, a gente faz o que gosta”.
“Não é complicado de trabalhar, a gente faz o que gosta” – Bruno
Projeto para o jovem ficar no campo
Tanto Suelen e Bruno fazem parte de um grupo de jovens atendidos em programa da Nutrifrango que incentiva os filhos e netos de produtores de aves a seguirem a carreira no campo. Para o diretor industrial da empresa, Jardel Luis Utzig, a média de idade do avicultor é elevada, mas a necessidade de pensar no seguimento do negócio é prioridade. “Estamos trabalhando para fazer a sucessão familiar e rural das propriedades. Começamos a treinar esta juventude, mostrar os ganhos financeiros e a perspectiva de futuro”.
Para ele, o retorno tem sido bastante satisfatório, com a ideia e o incentivo de manter este jovem no campo sendo bem recebido pelas famílias. “Eles estão enxergando que morar na cidade grande não é mais fácil como era e que o campo está mais atrativo do que ir para grandes centros. Estamos neste trabalho de convencimento de que o jovem tem sim futuro em casa”.
De acordo com o técnico agropecuário da Nutrifrango, Diego Korndeorfer, o programa já está há quatro anos atendendo a este jovem no campo e trabalhando na sucessão rural. “Tudo começou quando chamamos estes filhos de produtores para a empresa. Desde então estamos pensando neste fomento para que eles fiquem no campo”.
No projeto, os jovens filhos e netos de avicultores recebem acompanhamento, orientações e incentivos para seguir no trato do setor e, por consequência, manter a cadeia produtiva em pé. Além disto, a empresa também possui outros projetos para manter o jovem ativo no campo, como cuidando do bem-estar e estruturação da propriedade, investindo na aparência e nas melhorias das condições dos locais onde trabalham.
“Eles estão enxergando que o campo está mais atrativo do que ir para grandes centros” – Jardel
Jardel Luis Utzig, diretor industrial da Nutrifrango (FOTO: Rodrigo Thiel)
Tecnologia aliada do jovem
Diego ainda garante que um dos principais fatores que têm ajudado o jovem a seguir no campo é a tecnologia. “Uma coisa que ficou muito clara para a gente é que investindo em tecnologia os jovens se interessam mais em ficar em casa. Outra coisa muito importante para eles é se sentirem parte do processo e entender que eles também são empresários”.
Esta situação também é constatada por Jardel. “Estamos visitando algumas propriedades e já se enxerga muito o vô com o neto ou o pai com o filho. Já está ocorrendo esta sucessão e o que tem atraído muito é a tecnologia. Muita coisa do aviário está sendo automatizada e presente até no celular, falando a língua do jovem”.
“Investindo em tecnologia os jovens se interessam mais em ficar em casa” – Diego
Diego Korndeorfer, técnico agropecuário da Nutrifrango (FOTO: Rodrigo Thiel)
Mercado em crescimento
Jardel ainda destaca o atual cenário do frango no mercado mundial, sendo uma das proteínas com o maior crescimento de consumo. “Eu enxergo o setor com potencial muito grande. É uma carne extremamente competitiva, que tem um custo de produção muito mais atrativo que a carne bovina e suína. As pessoas estão cada vez consumindo mais e melhor, e a carne de frango além de barata é também mais saudável”.
Uma das principais empresas do setor na região, a Nutrifrango, tem 27 anos e mais de 80 famílias agregadas. Ao todo, são nove municípios com produtores de frango que abastecem a empresa, além de outras 24 obras de aviário em andamento ou paradas.
Em uma das salas de corte, funcionários da Nutrifrango trabalham na separação e no corte do frango produzido na região (FOTO: Rodrigo Thiel)