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Região

30 anos, 30 histórias: Grupo de “visionários” juntou Mel, Rosca e Nata e criou o maior evento de Ivoti

19/05/2023 - 11h53min

Peterson dá sequência à história construída pela Cantinho Doce

HÁ 17 ANOS PIONEIROS ENXERGARAM POTENCIAL NO NÚCLEO DE CASAS ENXAIMEL, HOJE O PRINCIPAL PONTO TURÍSTICO DO MUNICÍPIO

Por GUILHERME SPERAFICO

IVOTI – Começa hoje e segue até o próximo final de semana a 16ª edição da Feira do Mel, Rosca e Nata, com a promessa de reunir milhares de visitantes de todo o Estado. Esta história de sucesso, porém, contrasta com uma ideia ousada de um grupo de verdadeiros visionários, que juntaram os 3 tradicionais produtos da região, enxergaram o potencial do Núcleo de Casas Enxaimel – até então pouco explorado –, e criaram aquele que, hoje, é o maior evento gastronômico de Ivoti.

Para relembrar a criação da feira, o Diário reuniu nesta semana, dois de seus idealizadores: Cláudio Neis, um dos principais nomes da Cooperativa dos Apicultores de Ivoti (COOAPI), e Cláudio Dresch, fundador da padaria Cantinho Doce, primeira a produzir roscas diretamente no evento. O encontro aconteceu no estabelecimento, em espaço cedido pelo atual proprietário, Peterson Chitolina.

IDEIA DOS APICULTORES

Para recontar o surgimento da feira, Cláudio Neis relembra os primeiros encontros entre os apicultores do município, em 1985. A produção foi se expandindo com a criação da associação e, depois, da cooperativa. Em 1997, foi iniciada a exportação de mel do Brasil para o mundo.

Já no início dos anos 2000, através da Emater, surgiu a provocação de se pensar em uma ideia de evento gastronômico para Ivoti, valorizando um dos alimentos produzidos no município. Chegou-se à conclusão de que o mel era o diferencial local. “O Laerte (Corrêa Silva) sugeriu que fizéssemos uma feira. Aí falei que, se a gente fizer uma feira do mel, viriam de 50 a 100 pessoas, sendo a maioria apicultor para pesquisar o quanto nós colhemos e o preço vendido”, relembra Neis.

Retomando uma antiga tradição e às origens da colonização, Neis teve a ideia de casamento dos tradicionais produtos. “Eu disse, aqui temos a Laticínios Ivoti (que já teve suas atividades encerradas) produzindo nata. Pensei, o que vai chamar a atenção? Lembrei que todos nós viemos da colônia alemã nessa região. Quando éramos crianças, ajudávamos a mãe ou a avó a fazer rosca em casa. Depois da fornada de pão, vinha a rosca. Depois de pronta, em cima ia a nata e o mel. Aí ficou Mel, Rosca e Nata”, conta.

 “Quando éramos crianças, ajudávamos a mãe ou a avó a fazer rosca em casa. Depois da fornada de pão, vinha a rosca. Depois de pronta, em cima ia a nata e o mel. Aí ficou Mel, Rosca e Nata”

INÍCIO MODESTO

Foram cerca de seis mil visitantes nos dois dias da primeira edição da feira, conforme publicação do Diário, em 29 de maio de 2006. Na ocasião, foram vendidos mil quilos de mel e mais de 1.500 roscas. O crescimento fica ainda mais perceptível, quando se compara com a 15ª edição, realizada no ano passado, com 45 mil visitantes, 18 mil roscas e 3,2 toneladas de mel comercializadas.

Participante desde o segundo ano, o hoje ex-proprietário da padaria Cantinho Doce, Cláudio Dresch, relembra o início ainda com estrutura improvisada. “Colocamos duas tábuas em cima de cavaletes, forramos com toalhas e colocamos os produtos em cima”, conta.

Foi no terceiro ano de feira – segundo como expositor – que o empresário teve a ideia que ajudou o evento a criar corpo. “Eu disse, Claudio (Neis), vamos assar as roscas no local. Ele me perguntou, ‘vai dar?’ Eu disse que ia fazer. Eu queria mostrar o processo, porque muita gente não tem noção de como se faz rosca. Lá eles viam o processo da coisa, a gente fazia a massa e deixava assando”, explica Dresch.

PROPORÇÕES GIGANTESCAS

“Na primeira vez que participamos, vendi 300 roscas e achei o máximo”. – A fala é de Cláudio Dresch também contrasta com a atual realidade. De acordo com o atual proprietário da padaria, Peterson Chitolina, a capacidade de produção neste ano é de 500 roscas por hora. Ou seja, em uma hora é possível produzir quase o dobro do que foi comercializado nos dois dias, na 2ª edição.

“Hoje o evento tomou uma proporção muito maior. Tivemos que adaptar nossa produção. Deixamos os fornos à vista e o pessoal vê que a gente está trabalhando ali a rosca, forneando na hora”, conta Peterson.

Vendo o sucesso que o evento e a padaria tiveram, Dresch relata que sempre acreditou no potencial da feira. “A cada ano, a gente ia percebendo que vendia mais. Fomos pegando gosto pela coisa, porque sabia que era rentável. Conheço todas as feiras da região e, igual à nossa, não tem”, comenta.

Com o sucesso, Peterson fala em honrar a história. “Na época, eles (pioneiros) eram tachados como loucos. Hoje, sinto que eu tenho uma obrigação de contribuir e dar sequência a esta história. Eu sempre digo para a equipe que temos de manter o que foi criado lá atrás. Todo mundo gosta e dá um pouquinho a mais”, afirma.

 “Hoje, sinto que eu tenho uma obrigação de contribuir e dar sequência a esta história”

NÚCLEO CRESCEU COM A FEIRA

Além do mérito da criação do principal evento gastronômico de Ivoti, outra grande façanha dos pioneiros é o fato de ter enxergado no Núcleo de Casas Enxaimel o potencial turístico do município. “Primeiro tinha o ginásio do centro, onde eram normalmente feitas as feiras aqui de Ivoti. Depois começaram a vender os terrenos e ninguém sabia onde iam fazer. Quando eu falei que ia fazer lá embaixo, a maioria dizia que não ia dar certo. Era um capinzal, um capoeirão. Só tinha a abertura para artesanato”, relembra Neis.

A “loucura” de Neis deu mais do que certo e, hoje, o espaço é charmoso, aconchegante, sedia a maioria dos grandes eventos e é o principal cartão-postal de Ivoti. “Hoje falamos com vários prefeitos e eles nos elogiam, porque aquilo ali virou um polo”, conclui.

ESCOLHA PELA DATA

A Feira do Mel, Rosca e Nata acontece nos últimos dois finais de semana de maio devido ao encerramento da safra de outono do mel. “A data também foi escolhida porque muitas pessoas consideram o mel como um remédio. Com a chegada do inverno, pensamos nessas pessoas que, antevendo a chegada do frio, vão ter o produto em casa, guardado. Além disso, o dia do apicultor é 22 de maio, dia de Santa Rita de Cássia, padroeira do apicultor”, explica Neis.

Pioneiros, Cláudio Neis e Cláudio Dresch se encontraram com o atual proprietário da Cantinho Doce, Peterson Chitolina. Crédito: Geison Conciencia

 

 

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