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Região

64 anos de Dois Irmãos: A benzedeira que alivia as dores da comunidade que a acolheu

10/09/2023 - 10h50min

Amigos achavam que Dolores sentiria falta da vida na cidade

A ajuda que vem através da espiritualidade

Por Nicole Porto Alegre

Num pedaço de mato úmido, de vegetação típica da região, Dolores estendeu as mãos em direção às samambaias e pequenas árvores a sua frente. Com as palmas viradas para cima e de olhos fechados, ela meditou por alguns segundos. O dia estava ensolarado, mas as árvores mais altas filtravam a luz que chegava difusa no ambiente. Ela abriu os olhos e com um sorriso tranquilo disse que não estávamos a sós.

Maria Dolores Neitzke Posselt recorre à natureza ao redor da chácara onde mora quando precisa se energizar. “A natureza tem tudo que a gente precisa. Tem os chás, os óleos…”. Segundo ela, além de fonte de matéria-prima, o contato com o meio ambiente natural é um ótimo remédio contra a ansiedade. Anos atrás, quando a família decidiu deixar de morar na cidade e adquiriu a chácara, no bairro Travessão, os amigos e vizinhos alertaram Dolores de um possível desfecho da mudança: “Todos diziam que eu ia entrar em depressão, ‘onde já se viu morar na cidade e ir para o interior, sem ter com quem conversar!’”. Ela garante que nunca teve depressão, muito menos se sente só.

Dolores e a família vieram de Eugênio de Castro, cidade da região Noroeste do estado, em busca de melhores oportunidades de trabalho e encontraram na indústria calçadista a fonte do sustento. Ela guarda com muito carinho a lembrança dos tempos em que morava no bairro Navegantes e diz que foi muito bem acolhida em Dois Irmãos. Relembra nostálgica das reuniões na rua com os vizinhos enquanto as crianças brincavam por perto: “Éramos uma verdadeira comunidade. Nós devemos tudo a essa cidade.”

Na pequena sala, um difusor espalha o aroma suave de hortelã

“EU NÃO NEGO AJUDA A NINGUÉM”

Em um cômodo pequeno, anexo à casa onde mora em meio à natureza, Dolores recebe pessoas que a procuram de várias regiões e até de outros países. O local serve como um templo – ou um consultório – que acolhe quem tem dor, quem sofre com ansiedade ou busca a desobstrução dos caminhos em direção ao sucesso. Dolores os recebe com a missão de ajudar a todos que a procuram, um compromisso atrelado ao dom da espiritualidade que ela diz ter recebido alguns anos atrás.

Para o senso comum, Dolores é uma benzedeira. E quem a ajudou a entender o seu trabalho foi o próprio neto que, aos nove anos e com o pé torcido, a incumbiu de tirar a dor que sentia. “Ele me disse ‘vó, a senhora sabe o que fazer’, e na hora eu lembrei da oração. Cinco minutos depois ele não sentia mais nada.” Dolores passou a estudar sobre mediunidade e descobriu que era através das mãos que ela mais poderia ajudar ao próximo. Segundo ela, as mãos canalizam a energia e, mesmo sem tocar, têm o poder de interferir na dor, trazer alívio físico e espiritual.

Livros de estudo e símbolos da fé de Dolores

“Eu não nego ajuda a ninguém”, ela conta. “Tem pessoas que se abrem pra mim nos primeiros dez minutos de conversa mais do que nunca se abriram ao psicólogo!”, o que deixa claro que o trabalho de Dolores não é limitado a uma definição única. O acalento pode vir da imposição de mãos, de uma oração para “desbloquear os caminhos de luz”, até mesmo mentalizando um pedido de ajuda à distância. A disponibilidade de Dolores é tamanha que, às vezes, somente a meditação na natureza é capaz de repor suas energias.

 

UMA MENSAGEM A TODOS

O que mais parece preocupar Dolores é a incidência da depressão e a quantidade de pessoas desassistidas pelos próprios familiares. Ela faz um apelo à comunidade: “Quando tiverem dificuldade, procurem ajuda. Eu me emociono porque é triste quando a pessoa está no fundo do poço e comete loucura. Familiares, ajudem as pessoas que estão com depressão, porque elas precisam conversar.” Ela lembra que não é necessário o dom da mediunidade para oferecer ajuda a quem precisa: “As pessoas que pedem abraço, eu dou um abraço. Cada um que vem aqui faz parte da minha vida.”

 

 

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