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Aos 93 anos, ela criou os filhos, netos e também bisnetos em Santa Maria do Herval

13/05/2024 - 11h02min

Atualizada em 13/05/2024 - 11h08min

Por Cleiton Zimer


Santa Maria do Herval | O segredo da longevidade existe? Difícil dizer! Mas olhar para cada amanhecer com o entusiasmo de um dia único é a resposta para Valéria Gresler, 93 anos, moradora de Canto Becker:

Eu acordo às cinco horas da manhã. Lavo meu rosto, arrumo o cabelo e vou tomar chimarrão. Depois faço meu serviço: varrer a casa, o pátio. E aí já é tempo de fazer o almoço. Assim chega a tarde e vai se passando o dia. Enquanto o sol vai se pondo no horizonte ‘essa daqui’ já vai se indo embora, para cama”.

Valéria lembra com detalhes do seu passado

Mulher de olhar atento e sorriso fácil, a idade avançada e as rugas na pele são sinônimo de sabedoria, resultado de quem muito já enfrentou e aprendeu com a vida.

Ela nasceu e cresceu na Linha Marcondes, filha de Guilherme e Ella Fritsch. Seus pais sempre acordavam cedo, ao raiar do sol – e ela mantém este hábito. Quando crianças, ao acordarem para ir para a escola, a casa já estava ‘viva’ com fogão a lenha aceso e cheiro de café pronto.

Valéria é a mais velha de sete irmãos. Além dela, Olívia, Urbano, Nelson e Vilma estão vivos; Arnesto e Maximiliano faleceram.

De manhã iam para a aula a pé, passando por um rio já que não tinha pontes, até uma escola que ficava perto de onde hoje tem a igreja da Marcondes.

De tarde todos os filhos eram colocados no serviço. “Eu lembro bem como era. O pai falava: – vou tomar meu chimarrão, peguem os chapéus de vocês e vamos trabalhar. Aí todos estavam prontos, parados com seus chapeuzinhos e suas enxadinhas, um atrás do outro indo junto para a roça.”

Ninguém reclamava. No final do dia, recorda, podiam ir brincar com os filhos do vizinho. “Uns tinham carretinha, outros funda. Aí a gente se divertia. Antes de anoitecer todos tinham que estar em casa.”

O casamento

Há mais de 70 anos, quando casou-se com Arnildo Gresler, foi morar em uma casa enxaimel na localidade de Canto Becker na qual continua vivendo até hoje.

A residência era do sogro dela e, naquela época, não estava toda paga. Trabalharam muito, venderam batatas, feijão, e conseguiram o dinheiro para quitar. Assim, constituíram uma família.

Mas não foi só o trabalho pesado. A vida preparava outros desafios.

SUPERANDO OS DESAFIOS:
Mãe dos filhos, netos e também bisnetos

Valéria em sua casa onde mora há sete décadas

O casal teve quatro filhas: Irani, Laci, Diva e Marceli. Todas trabalharam em casa aprendendo na lida da roça com os pais, crescendo com este exemplo de que o trabalho dignifica.

Além de cultivar batata, feijão, milho e criar animais, também plantaram fumo de estufa que por muitos anos forneceram para a Souza Cruz. “Por vezes, tínhamos que ficar acordados durante a madrugada secando o fumo”, lembra.

Quando as crianças eram bem pequenas, ela fazia todo o serviço de casa e, depois, ia atrás na roça ajudar o esposo. “Quando a mais velha foi ficando grande, ela começou a cuidar dos outros e assim passava o dia na roça.”

Ela lembra que naquela época tinham a junta de bois mais bonita do “picót” – da região. Todo o serviço era braçal, desde lavrar a terra, plantar e colher.

Mas além de todos os desafios do trabalho pesado, a vida resolveu ser ainda mais dura. A filha primogênita, Irani, faleceu aos 26 anos de câncer. A avó então criou os dois netos que ela deixou. Eles cresceram e, uma das netas, Sandra, faleceu aos 30 anos por causa de um tumor cerebral, deixando outros três filhos; portanto, também criou seus bisnetos.

Mas ela não reclama: “Deu certo. Um dia após o outro foi passando e eles cresceram”, afirma.

Hoje tem sete netos, quatro bisnetos e já dois tataranetos. Seu marido faleceu há 14 anos, aos 81.

A matriarca junto com a grande família

Foi na roça até os 90 anos

O avançar da idade nunca a fez recuar. Pelo contrário, seguiu indo junto na roça até os 90 anos, não por necessidade, mas por gostar, por não querer ficar parada. Até pouco tempo ainda ajudou a quebrar milhos perto de casa.

Hoje ainda faz de tudo um pouco dentro de casa. “Só lavar roupa que não. Não consigo mais estender ela no varal.

Também costura. Não faz muito tempo que ela mesma colocava a linha na agulha. Agora, algum dos familiares o faz e, mesmo assim, faz alguns reparos nas roupas.

Também é ela que faz o pão toda semana. Prepara tudo e coloca no forno. “Minhas pernas estão um pouco cansadas. Mas é a idade, faz parte.”

A jovialidade dela é mantida, justamente, por seu constante otimismo, “por nunca parar, sempre estando disposta a se movimentar e fazer algo”, diz a filha Marceli Weber, que não esconde o quanto admira a mãe.

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