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Na simplicidade da roça ela encontra a felicidade: poder trabalhar aos 73 anos, em Santa Maria do Herval
Com disposição de sobra, Maria cultiva a terra e esbanja saúde
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Por Cleiton Zimer
Santa Maria do Herval – O que você faria num dia de nebulosidade, frio, com chuva caindo volta e meia? Qual seria a sua resposta caso tenhas na faixa dos 70 anos?
Bom, dona Maria Valesca Lenhnen tem 73. Sabe o que ela fazia lá na localidade de Morro dos Bugres Baixo nestas exatas circunstâncias?
Aproveitou uma tarde de tempo instável justamente para adubar os pés de cebola que plantou numa propriedade – que fica do outro lado da rua em que mora com o marido, José Paulo, 71, há 49 anos.
Nada de salto aqui
Sempre disposta a uma prosa, logo brincou: “eu vou para a roça com minhas roupas velhas. Aqui não adianta vir de salto alto.”
Há umas semanas havia plantado as cebolas, cerca de 200. Um acumulado de água veio e arrancou praticamente tudo. Mas ela juntou as mudas, foi lá e plantou novamente. “Estão crescendo muito bem agora.”
Além disso ela e o marido cultivam milho, tomates, mandioca e muito mais. “E sabe que não estamos conseguindo o bastante? As pessoas querem comprar mandioca, mas querem limpa. Ninguém mais quer com terra; não querem mais sujar as mãos.”
“Não tenho medo de sujar minhas mãos”
Mas Maria é da geração que sabe os benefícios do chão. “Não tenho medo de sujar minhas mãos.”
Para ela não é só questão de trabalho, mas de saúde também. Afinal, qual seria o seu segredo para, nesta idade, ter tanta disposição? E repare no terreno íngreme nas fotos – ela caminha por lá sem titubear. Para ela a resposta é simples: nunca parar!
E aos que pensam que o trabalho é pesado, ela logo responde que não: “é só se organizar”.
A aposentada explica que sempre trabalhou nesta lida, sem nunca entrar numa fábrica. “Eu gosto muito. Só vou parar quando não puder mais.”
No dia 15 de fevereiro completaram 50 anos de casamento. E foi através da dedicação na agricultura que criaram os dois filhos, que também frutificaram em quatro netos.
Sempre no Morro dos Bugres, entre o Baixo e Alto
Ela nasceu em Morro dos Bugres Baixo, a poucos metros de onde vive hoje. Seu marido é do Alto, ali próximo.
“Eu tinha que caminhar uma hora para ir na escola. Hoje, se não podem entrar no ônibus na porta de casa já reclamam.”
Conta que estudou até a quinta série, na época, com o professor Eugênio de Moraes. “Depois tínhamos que ficar em casa. Nossa escola foi a enxada.”
Um dos seus lazeres é participar dos encontros nos bailes. Ela integra o grupo Amizade. “Ele (marido) não vai. Mas eu vou junto.” Mas diz que o momento mais aguardado é de manhã cedo, quando pega seu jornal Diário para ler e tomar chimarrão.
Ela fez seu aniversário no último dia 7. Conta que já enfrentou muitos problemas de saúde por conta da pressão alta. “Mas sempre consegui superar.” Toma medicamentos há 44 anos, mas ressalta que o melhor remédio é justamente o de trabalhar na roça.