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Região

Piá apresenta prejuízo de mais de R$ 75 milhões

26/03/2024 - 12h09min

Presidente Jorge mostra os déficits do ano da cooperativa (CRÉD. GIAN WAGNER BAUM)

Valor é a soma do déficit de 2023 com valores não contabilizados em anos anteriores

GIAN WAGNER BAUM

Nova Petrópolis – A Cooperativa Piá apresentou na noite de segunda-feira, 25, os resultados do ano de 2023, período este em que houve a turbulenta saída da antiga gestão e a entrada da nova diretoria liderada pelo presidente Jorge Dinnebier. O evento aconteceu no Centro de Eventos e reuniu mais de cem associados.
Entre todos os temas, o principal apresentado as perdas do ano de 2023 que totalizaram em R$ 75.658.167,13. Parte do valor corresponde a perdas operacionais do ano e fecha em R$ 58.859.129,51. Este valor é considerado ‘prejuízo líquido’. O restante é um valor encontrado durante a auditoria e totaliza R$ 17,6 milhões que haviam sido escondidos dos resultados de anos anteriores e agora foram contabilizados para corrigir as contas. “Esse valor de R$ 17 milhões não é só do ano passado, tem valores de outros anos também”, explicou Erni Dickel, auditor que explicou o trabalho realizado na cooperativa.
Conforme mudança feita no estatuto da cooperativa em 2018, o valor negativo deveria ser repartido igualmente entre os associados ou entre aqueles que usufruíram dos serviços prestados pela cooperativa. Porém, foi dada uma alternativa para os produtores que votaram e aprovaram a ideia. A proposta é manter este saldo negativo e, ao invés de cobrar dos associados, recuperar o valor com a venda de patrimônio e gerando resultados dentro da Piá.

SITUAÇÃO FINANCEIRA – A Piá teve uma queda significativa no faturamento em 2023 que passou de R$ 605,2 milhões para R$ 240,2 milhões. Já o endividamento é de R$ 249,2 milhões. Outro valor que foi desmistificado na assembleia foram os R$ 133 milhões em ativos. Esse valor seria, conforme estatuto, rateado entre os associados. Porém, o auditor Erni explicou que esse valor não deve entrar na totalidade para a cooperativa. “São valores que para entrar, teriam que ser cobrados. E ainda, não entraria todo o valor, então não é correto considerar esse valor como ativo”, explicou.

A estrutura da Piá hoje
A Piá trabalha em sua reestruturação, diminuiu a abrangência e está em busca dos produtores, especialmente aqueles que deixaram de fornecer para a cooperativa. Hoje a Piá capta insumos (leite, principalmente) em 22 municípios num raio de 150 quilômetros e vende para 262 municípios, o que representa 56,7% do Estado. Houve uma redução de funcionários e, em março, a cooperativa conta com 280 colaboradores. O número de produtores subiu de 103 para 162, resultado de um trabalho de busca dos produtores através de reuniões diretas e negociando as dívidas. Quem volta a fornecer para a Piá, recebe o valor do leite em dia mais 10% da dívida, chegando, assim, ao quitamento no décimo mês. Já produtores de longe, como Maraú, estão negociando a dívida para ser paga em 24 parcelas.

APOSTA NA INDUSTRIALIZAÇÃO DE LEITE – A Piá foca agora na industrialização do leite e aposta no mix de produtos que conta com leite UHT, requeijão, nata, iogurtes, doce de leite e doce de frutas. “Precisamos de mais leite para termos mais área de vendas. Com isso tudo que aconteceu, a Piá acabou perdendo espaço nas grandes redes e precisamos voltar para lá”, disse o presidente Jorge Dinnebier.

SUPERPIÁ – A venda do supermercado, informada em nota um dia após a oficialização, também foi assunto na assembleia quando foi apresentado o valor da proposta recebida: R$ 23 milhões. Um dos membros da diretoria chegou a falar que este assunto não deveria ficar em “rodas de conversa” e que estava sendo apresentado apenas àquela pequena parcela de associados presentes no evento, pouco mais de cem pessoas. A cooperativa conta atualmente com mais de 20 mil associados em todo Estado. Os espaços de Morro Reuter, Feliz, Santa Maria do Herval e Picada Café também estão sendo negociados, assim como o Centro de Distribuição na Vila Germânia, em Nova Petrópolis.

A NOVA MARCA DA PIÁ – O evento também apresentou a nova marca da Piá. O design mais limpo e com menos cores auxiliará na economia na hora de produzir as embalagens. A economia pode chegar a 300% em algumas embalagens.

BAIXA DOS BENEFÍCIOS – A diretoria também aprovou a redução de benefícios para si próprios. Os salários se mantiveram em oito mínimos para o presidente, um para o vice e seis para o secretário, sendo que presidente e secretário passam a ter a responsabilidade de dedicação exclusiva à Piá. Foram retirados valores correspondentes a diárias e auxílios deslocamentos que exponenciavam os salários da antiga diretoria. A economia deve chegar a 36,5%.

EXTRAORDINÁRIA – A reforma estatutária foi brevemente comentada com os associados. A ideia é fazer uma revisão no Estatuto da cooperativa para atualizar o mecanismo. A diretoria informou que entre julho e agosto deve ser chamada uma assembleia extraordinária para trabalhar este assunto.

CONSELHO FISCAL – O novo conselho fiscal foi apresentado e eleito na noite. A composição ficou com Eloi Wissmann, Clóvis Thiele e Edith Zilles, como titulares, e Rafael Michaelsen, Clóvis Brandt e Carine Wedig como suplentes.

“Muita coisa não foi má gestão, foi crime”
O delegado da Polícia Civil, Fabio Idalgo Peres, fechou a noite falando na assembleia sobre o trabalho desenvolvido na investigação de supostos crimes ocorridos na antiga gestão da Piá. Fabio destacou o trabalho da Justiça e falou sobre provar a o dolo à cooperativa. “O Poder Judiciário já deferiu medidas cautelares e precisamos agora provar o dolo, a fraude. Nós investigamos fatos e encaminhamos isso ao Judiciário”, disse. “Mas posso dizer que muita coisa não foi má gestão, foi crime”, finalizou.

 

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