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Cadernos

A união do casal que construiu a vida lado a lado na agricultura

23/03/2020 - 10h43min

Atualizada em 23/03/2020 - 11h42min

Lúcia tem 83 anos e Ernesto 81; eles vivem na localidade de Frankenthal desde que são casados (FOTO: Cleiton Zimer)

Morro Reuter – “Gundach” dizem eles, desejando uma boa tarde. O dialeto alemão, o Hunsrik, é a língua que mais se fala na casa de Lúcia Braun Steffen e Ernesto Steffen. Já o português se usa em últimos casos, somente se necessário, ou seja, quando vem alguém da “cidade” e que não sabe o alemão.

Conversa vai, conversa vem, eles lembram perfeitamente de cada detalhe. Falam da época em que se conhecerem e de alguns desafios que juntos viveram até agora; do trabalho árduo de sol a sol na lida da roça para criar os oito filhos que, da mesma forma, ajudaram a consolidar a família e, também, as mudanças que aconteceram nesses anos todos, antes mesmo da emancipação política de Morro Reuter.

Eles são casado há quase 60 anos. Ela tem 83 e ele 81 anos. Eles vivem no interior do município, na localidade de Frankenthal, ondem tem a sua propriedade na qual vivem desde que são casados. “Gosto muito de morar aqui; é meio distante das coisas, principalmente longe dos filhos e isso dificulta um pouco. Mas é um lugar tranquilo”, disse Lúcia. Ela e o marido moram sozinhos, e os filhos sempre vão visitá-los.

Além da roça, Ernesto também cria um porquinho, que é para consumo próprio. “É muito mais saudável”, diz ele (FOTO: Cleiton Zimer)

Apesar de estarem aposentados, eles ainda continuam trabalhando: Lúcia um pouco menos, pois tem alguns problemas de saúde que dificultam a sua locomoção; mesmo assim ela cuida da casa, do jardim com flores e faz comida.

Mas Ernesto continua firme, plantando suas batatas, milho, cuidando dos porcos e das galinhas. “Antigamente chegávamos a plantar de 100 a 120 sacos de batata, atualmente planto só um ou dois sacos”, disse Ernesto, que hoje só produz para consumo próprio. “Já tive dois ataques do coração, então preciso me cuidar um pouco melhor”, disse ele, ressaltando que antigamente trabalhavam mais pois os “agricultores eram mais valorizados, as coisas tinham um preço melhor para o pequeno produtor. Se hoje tivéssemos que trabalhar na roça para sobreviver, não sei como seria”, comentou.

As lembranças da velha carroça de bois que marcou uma época

Nesses 80 anos, muitas histórias e momentos marcantes ficaram guardados nos corações de Lúcia e Ernesto. Não tem muitas fotografias guardadas da época, mas nos fundos de casa eles ainda preservam o antigo galpão e nele, estão guardadas as mais belas lembranças vividas, que são oriundas de muito trabalho e dedicação. Lá está a antiga carroça, com suas rodas de ferro, que já carregou muitos sacos de batata e pasto para os animais. “Já não trabalho com ela há dois anos”, revela Ernesto.

Ernesto lembra de quanto trabalho já fez com a velha canga de bois, que hoje está guardada no galpão (FOTO: Cleiton Zimer)

Na parede está pendurada a pequena canga, que era usada para amansar as juntas de bois. Por cima da canga, está o velho relho, feito de couro legitimo e que ainda está em bom estado de conservação.

“Saudades não temos. Mas as vezes, venho para cá e lembro daqueles tempos em que ainda podíamos trabalhar muito”, disse Ernesto.

O casal também tem 23 hectares de terra em Padre Eterno Ilges, no município de Santa Maria do Herval. “Uma vez, sete famílias cultivaram uma mesma plantação de batatas. Era muito bonito ver todos trabalhando juntos”, relembra Lúcia, destacando que hoje querem vender essas terras. “Já não podemos mais trabalhar nelas, então é melhor vende-las”, disse.

Ao lado da sua carroça, Ernesto fala da sua lida na roça, do esforço que teve para garantir o sustento ao lado da família (FOTO: Cleiton Zimer)

Ela é natural da localidade de Muckenthal. Conta que estudou em um colégio onde hoje fica o salão da Comunidade Católica de São José do Herval. “Todos os dias a gente vinha do Muckenthal até São José para ir na aula do professor Schneider”, contou, relembrando de uma árvore grande que ficava logo ao lado, onde as crianças brincavam.

Já Ernesto nasceu ali mesmo, no Frankenthal. “A casa onde nasci fica a poucos metros de onde moro hoje. A nossa escola, na época, era onde hoje fica a Igreja Católica”, disse ele, destacando que uma das melhores lembranças que possui da sua infância é o kerb. “Eram três dias de festa direto e muito mais animado do que hoje em dia. As famílias se reuniam e juntos festejavam”.

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