Região
Ivo, de Dois Irmãos, desbravou o Brasil de ponta a ponta e agora explora o Mercosul
Por Cleiton Zimer
Dois Irmãos / Santa Catarina / Mercosul – Ivo Ari Graef Odi, 53 anos, é motorista de caminhão apaixonado pela missão de transportar o futuro da nação pelas rodovias do país e, também, fora dele. Nos seus 36 anos de profissão conheceu o Brasil de ponta a ponta, e, agora, está atuando em todo o Mercosul.
Ainda com 18 anos incompletos veio de Mato Grosso para Dois Irmãos. Logo ao completar a maioridade fez sua carteira de motorista. Naquela época, nas sextas e sábados, ajudava a levar lenha para as olarias de Campo Bom e, com isso, foi adquirindo conhecimento.
Em 1990 começou a viajar. “Não conhecia nada. Na época não existia celular, ainda era tudo no orelhão.”
Ivo lembra que não havia muitos caminhões naquele tempo, diferente de hoje. Além disso as condições das estradas eram mais complicadas. “Todas de pista simples. De dupla só a Freeway e a Dutra em São Paulo. Hoje está tudo moderno.”
Nestes longos anos de trajetória Ivo sempre levou consigo a fé em Deus. “Nunca tive nenhuma tragédia.”
A mudança de vida também trouxe desafios inesquecíveis
O motorista trabalhou por cerca de 17 anos no Grupo Herval. Há mais de um ano decidiu sair da empresa e buscar por novos ares.
Foi quando motivado pelos primos Zé, Claiton e Nilson – também caminhoneiros –, que começou a fazer a rota Mercosul, entre Brasil, Argentina, Uruguai e Chile. “Caí na conversa deles: falaram que não nevava mais como em meados de 2015”, brincou.
Ivo fez uma viagem com Zé. “Voltamos e foi tudo bem.” Assim foi contratado pela LPD Importação e Exportação, com sede em Dionísio Cerqueira, Santa Catarina.
O novo emprego também fez com que tivesse que se mudar para SC. “Cheguei quinta de manhã com a mudança, e quinta de tarde a gestora disse que o caminhão estava na fila da aduana.”
Assim fez sua primeira viagem em julho de 2022. “Totalmente perdido. No Brasil eu conheço tudo, mas Argentina e Chile, nada.”
Nevasca em sua primeira viagem no Chile
E sua primeira viajem foi de fato inesquecível. Uma nevasca histórica. “Fui lá, atravessei a Argentina e entrei no Chile. Estava rodando no Chile uma hora e caiu a tempestade. Sábado de tarde afundei no gelo, junto de mais uns mil. No domingo de tarde a neve estava na porta do caminhão. A temperatura era de -15 ºC e -17 ºC”, recorda.
Na noite daquele domingo os motoristas foram resgatados pelo Exército, sendo levados para a base. Ivo recorda que ao descer do caminhão e neve chegava ao joelho. “Com o calor do corpo, derretia e entrava nas botinas, molhando as meias e congelando os pés.”
Caótico
No trajeto até o quartel demoraram três horas, cujo percurso é de apenas 40 minutos em condições normais. “Lá no exército era caótico. Parecia que tinha dado uma tragédia. Todos sem tomar banho, sem comer. O pátio parecia um curral de tanta lama, e as pessoas caminhando.”
Lá passaram por uma reciclagem. Ivo foi dormir às 3h, numa escola, até às 7h. No outro dia a empresa resgatou os motoristas e os levou para um hotel. “Essa história ficou gravada na minha mente, que é uma das mais caóticas. E depois disso não deu mais nevasca. Já faz um ano, está dando muita neve, mas não tempestade.”
O motorista disse que, ao sair da sua área de conforto foi procurar novos destinos, emoções. “Mas não achei que seriam tão fortes”, brincou, em entrevista na semana passada, enquanto diria pelas Cordilheiras, retornando ao sul da Argentina para carregar uma carga de frutas. De lá, volta ao Brasil depois de um mês em viagem.
Atualmente mora em Dionísio Cerqueira, mas sempre que pode volta para Dois Irmãos visitar os filhos Cauã Vinícius Odi e Bruno Mateus Odi, além dos amigos que tem por aqui.
Sobre a profissão, diz que fez a escolha certa. “Entrar nesta vida de estrada não foi fácil, mas permaneço e quero me aposentar deste jeito.”