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 Família Kieling: uma infância no Museu de Dois Irmãos

16/09/2022 - 15h35min

Atualizada em 16/09/2022 - 15h36min

Liselotte identificando os bisavôs em livro sobre história de Dois Irmãos. Créditos: Giordanna Benkenstein Vallejos

Por Giordanna Benkenstein Vallejos

 

Carlos Kieling, sua esposa Carolina Schaffer e a prima de Carlos, Josefina Kieling. Créditos: livro de Felipe Kuhn Braun.

 

Liselotte é descendente de um dos colonizadores de Dois Irmãos que vieram da Alemanha, Antônio Kieling. “Cresci ouvindo histórias no local onde agora é o museu. Quando tinha 9 anos, a Av. São Miguel era de chão batido, não era tanta gente na cidade, sendo que a maioria eram pessoas mais velhas e conhecidas. Por isso, meu passatempo era ouvir as histórias dos antepassados. ”, disse ela.

Antes de começar a conversar, Liselotte pede para a Alexa, por comando de voz, para parar de tocar a música. Apesar de ter mais idade, ela se mostra muito atualizada. Em sequência, aquece água no fogão a lenha. Com as suas atitudes e as suas palavras, ela constrói uma belíssima e rara ponte entre o presente e o passado.

Antônio Kieling é avô do bisavô de Liselotte Feltes Auler. Ele veio da região da Alsácia-Lorena, na Alemanha, e chegou na região de Dois Irmãos em 1827, sendo um dos primeiros imigrantes a chegarem na região. Antônio era um homem muito bonito e fazia parte da guarda de Napoleão. Quando cessou a guerra, ele se apaixonou pela filha de um general. Antônio era pobre e ela era de família muito rica, por isso, ambos fugiram juntos para o Brasil.

 

 A farda da guarda de Napoleão

Em dias de festa, dizem que ele polia a espada, usava a sua antiga farda e galopava pela cidade. Mas a sua esposa, Elisabete, nunca se acostumou com a miséria que eles tiveram que enfrentar no Brasil. O casal concretizou moradia no local onde atualmente é o Museu Municipal de Dois Irmãos. Ainda hoje, a lápide de Antônio Kieling permanece no pátio. Os dois vieram da Alsácia-Lorena. Liselotte morou dois anos com a filha nesta região da Alemanha, e pode conhecer o local que seu ancestral vivia.

 

  Uma vida que virou história

Museu foi a casa da família Kieling por muitos anos. Créditos: Acervo O diário.

 

O local onde existe o museu foi onde Liselotte brincava quando pequena e dormia algumas vezes durante a semana. Viviam lá suas duas tias-avós, que eram costureiras e faziam roupas para toda a comunidade.  “Lembro-me de sentar na sala onde fica o museu, onde a minha bisavó me ensinou a ler. ”, disse ela. O bisavô dela, Carlos Kieling, fazia farinha de mandioca no porão onde é o museu. A casa foi construída em 1846, pela família Weimann, com a intenção de começar uma fábrica de vinagre.

 

Liselotte mostra foto da fábrica do Wirth, que ela apareceu, pois estava brincando por perto. Créditos: Giordanna Benkenstein Vallejos

 

Noivado de 53 anos e memórias preservadas

Antigamente, casamentos entre católicos e protestantes poderiam levar a certos conflitos. A bisavó de Liselotte era protestante e o bisavô era católico. No leito de morte, o bisavô fez a irmã mais velha, Ida Kieling, prometer que não deixaria a irmã mais nova, Edith Kieling, se casar com um protestante.

Por destino, Edith se apaixonou por Alfredo Rubenich, um protestante, e ficou 53 anos noiva. Ela só pode casar após a morte da filha mais velha. “Vivi essa história com eles. Toda quarta, sábado e domingo ele vinha ver ela e eu tinha que sair sempre junto, para ficar cuidando. Eles não podiam ficar a sós por não serem casados. ”, explica Liselotte.

“Onde está a cozinha do museu era o quarto do meu bisavô. A cozinha real era um anexo na parte de fora, no quarto de cima eu dormia. Naquele quarto também morou a mãe do meu bisavô, que ficava lá o tempo todo, pois era cega. Lembro que separávamos palha de milho para fazer nossos colchões. ”, relembra Lisellote.

A paixão dela por conversar com os mais velhos fez com que ela soubesse muito da história da família. “Gostava de me sentar para conversar com a minha bisavó Carolina.  Ela me explicava que o meu tataravô era médico e trabalhou também naquela casa que é o museu. Ela sempre contava as grandes dificuldades que as gerações anteriores passaram na Alemanha, que fez com que imigrassem para o Brasil. ”  O pai de Liselotte, Gildo Feltes, era proprietário da fábrica de calçados Roseli, que é lembrada por muitas pessoas. Então a mãe, Erica Feltes e os filhos ajudavam na produção dos sapatos.

Liselotte Feltes Auler teve três filhos e cinco netos. Ela fez questão que todos eles conhecessem o museu e falassem em alemão, para preservar a cultura. Conta que quando vai ao museu, muitas vezes serve como guia para os visitantes. “Me sinto muito feliz de poder participar disso. Levei meus cinco netos lá: eles têm que saber que me sinto honrada por ser descendente de Carlos Kieling, um homem trabalhador e honesto”.

 

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