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Família reclama de atendimento recebido no Hospital de Dois Irmãos para nascimento da filha prematura

21/04/2023 - 13h51min

Atualizada em 21/04/2023 - 14h05min

Alexandre com a esposa Roseli no Hospital, já depois do parto. (FOTO: arquivo pessoal)

Por Cleiton Zimer

Dois Irmãos – Uma família do município passou por um verdadeiro sufoco no último final de semana. Procuraram atendimento médico no Hospital São José, administrado pelo IB Saúde, diante do rompimento da bolsa numa gestação de um pouco mais de 35 semanas. O pai reclama do atendimento recebido, e, por fim, o nascimento da pequena Talita aconteceu em Sapiranga, que é a segunda filha do casal.

De acordo com o relato do pai, Alexandre Mallmann, a bolsa da esposa Roseli Angnes Mallmann estourou por volta do meio-dia de sábado (15). “Fomos no posto, atenderam logo e nos levaram até a médica que tinha uma vontade que nem dá para comentar. Olhou e disse que estava fechado o útero, que poderia ter sido xixi”, conta, afirmando que colocaram um pano e os mandaram para casa, dizendo que, se voltasse a sair líquido deveriam retornar. Nem tinham chegado em casa e tiveram que voltar.

IDA PARA SAPIRANGA

Numa nova análise afirmaram que a bolsa realmente havia rompido. “Aí disseram: aqui não podem ficar, não temos UTI Neonatal, vão para Novo Hamburgo ou São Leopoldo, mas diz lá que não estavam aqui senão vão mandar de volta porque as UTI estão todas cheias”, relatou.

Alexandre disse que perguntou se Sapiranga teria UTI e lhe responderam que sim. “Aí nós fomos a Sapiranga. Tive que mentir que estava passeando e que deu uma emergência. Atenderam e falaram que não poderiam internar por ser de outro município, mas internaram, e a partir dai tudo ótimo.

PARTO FOI FEITO SEGUNDA-FEIRA

Na outra cidade a família recebeu atendimento e acompanhamento de hora em hora. O bebê estava com 35 semanas e 4 dias. “Fizeram injeção para amadurecer o pulmão mas só iam fazer cesária quando abrisse um leito de UTI, para ter garantia”, explicou o pai.

Passaram o final de semana internados. Na segunda-feira pela manhã realizaram uma ecografia e decidiram fazer o parto. “Mas aí precisava a vacina hemoglobina para a bebê. Dois Irmãos, de novo, não tinha. Tivemos que aguardar.”

Por fim, às 11h17, foi feita a cesariana e Roseli encaminhada para a sala de recuperação. “Era para ficar no máximo 4 horas e eu esperando, esperando e chamando no interfone. Aí o impasse era com Dois Irmãos novamente. Sapiranga queria levar para o quarto na cidade natal. Seria ótimo, mas na nossa bela Dois Irmãos disseram que não tinha pediatra para dar acompanhamento.”

“É uma falta de consideração”

Alexandre disse que a esposa só saiu do quarto às 22 horas de segunda-feira, chorando e dizendo que a tinham abandonado, sendo que, para ele, afirmaram que estava tudo bem. “Uma pouca-vergonha a saúde. Fiquei decepcionado com este empurra pra cá e pra lá e ninguém se decidia.

É uma falta de consideração. A bebê prematura foi receber leite somente às 22 horas, desde as 11 e pouco e sem se alimentar. Não culpo Sapiranga. Agradeço pelo ótimo atendimento. Fico envergonhado por dois Irmãos não ter estrutura para nos receber”, desabafou o pai.

Depois de todo o transtorno, bebê, mãe e pai já estão em casa.

Talita já está em casa com os pais.

O que diz o secretário de Saúde?

A reportagem contatou o secretário de Saúde, Nilton Tavares, que informou que conversou com Alexandre e, também, que teria uma reunião com a direção do IB Saúde, que administra o Hospital São José, para apurar as circunstâncias.

Tavares disse que o ideal seria, sim, que a mãe fosse internada em Dois Irmãos para posterior encaminhamento para um Hospital onde haja UTI Neonatal. Afirmou que, via de regra, a prioridade é sempre atender de forma mais ágil os pacientes, principalmente gestantes.

O que diz o Hospital São José?

Em nota, o Hospital São José, através do IB Sáude, respondeu à reportagem sobre o ocorrido:

1.- O Hospital São José não tem UTI neonatal – diante disso, não existem condições técnicas de prestar atendimento/suporte a recém nascidos prematuros (abaixo de 37 semanas);

2.- O sistema de regulação de leitos é feito pelo GERINT – ou seja, o paciente internado pelo SUS entra nessa lista, com o objetivo de ser transferido para outro hospital (o qual tenha os recursos necessários para o atendimento) – repita-se: a regulação de leitos não é feita pelo Hospital;

3.- A paciente foi atendida, diagnosticada corretamente como tendo ruptura de membranas, com saída do líquido amniótico antes do termo da gestação – por conseguinte, emergia a possibilidade de nascimento prematuro;

4.- A paciente foi informada que, diante da iminência do parto prematuro, o Hospital São José não teria condições de prestar o atendimento/suporte necessário (diante da inexistência de UTI neonatal) – dessa forma, teria que ser internada e entrar na lista do GERINT, aguardando a liberação de leito (e não existia qualquer previsão de quando o leito seria liberado para posterior transferência);

5.- Diante dessa realidade, a paciente e familiar optaram por procurar um hospital que oferecesse a UTI neonatal – dessa forma, por meios próprios, procuraram o Hospital de Sapiranga (e neste hospital, que possui UTI especializada, o parto não foi de urgência – primeiro ainda se tentou transferir a paciente para hospital com leito de UTI Neonatal disponível (sem sucesso), pois a do hospital de Sapiranga se encontrava lotada – o parto somente foi feito no dia seguinte após a internação e, como se previa, a criança necessitou ir para UTI daquele nossocômio, demonstrando que foi correta a decisão de não fazer o parto no Hospital São José);

6.- Importante recordar que a paciente possui vínculo com o Hospital de Clínica em Porto Alegre, realizou o pré natal de alto risco na rede básica de saúde do município (ou seja, já tinha conhecimento de que poderia precisar de atendimento especializado quando do nascimento do filho);

7.- Após o nascimento, com a saída da criança da UTI, o Hospital de Sapiranga pediu a transferência do recém-nascido para o Hospital São José;

8.- Na oportunidade do pedido, não foi negado leito ou transferência, muito pelo contrário, já que existia vaga no berçário – apenas se sugeriu, conforme orientação do pediatra especializado que presta serviços no Hospital São José, que tal transferência fosse feita algumas horas mais tarde, de forma a permitir que a criança ainda permanecesse mais doze horas em Sapiranga (medida de prudência, caso ainda fosse necessário o atendimento especializado da UTI).

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