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Uma estrada perigosa no coração de Lucena
Presidente Lucena – A VRS-865, também conhecida como Avenida Presidente Lucena, cruza toda a extensão do município. Dentro do perímetro urbano, a estrada conta com escolas, malharias, empresas, igrejas e comércio em geral, demonstrando que a via concentra praticamente as principais atividades econômicas e sociais de Presidente Lucena.
A estrada, que tamanha representatividade tem para seus moradores, no entanto, tem causado preocupação em razão do excesso de velocidade que os condutores transitam por ela. Um desses munícipes, Leomar Petry, tem motivos mais profundos para afirmar que a VRS-865 é um trecho perigoso.
Em apenas um mês, Petry se deparou com dois episódios difíceis de superar. No dia 25 de abril, ele transitava na avenida a bordo do seu veículo, um Santana, quando foi atingido fortemente na traseira por um Siena. Com o impacto, o carro atingiu mais dois veículos que estavam estacionados em frente ao Mercado Exner, uma área de grande movimentação de pedestres. Duas pessoas ficaram feridas na ocasião e Leomar perdeu seu veículo. Os danos ao carro causaram perda total.
“Tentei acionar um seguro terceirizado, mas não tive sucesso. Havia comprado o carro no início do ano e neste momento não tenho condições de adquirir outro”, informa. Petry tem usado o carro do filho, contribuindo com gasolina e manutenção.
Acidente envolveu quatro veículos em abril deste ano (Créditos: Alex Günther)
Um novo incidente trágico
Exatamente um mês depois do ocorrido, o aposentado se deparou com um novo episódio na avenida, mas desta vez com um fator emocional maior envolvido. No sábado, 25, Leomar levou seu genro Gilmar e o neto Deivid Oliveira ao posto de gasolina. No caminho, sua filha Jéssica entrou em contato para o marido comprar papel higiênico.
Leomar levou os familiares até o mercado e na saída, o menino foi atravessar a estrada e foi atropelado. “Foi tudo muito rápido. Eu fiquei dentro do carro, no outro lado da pista, aguardando por eles. O Gilmar disse para o Deivid ficar no carro, mas o menino insistiu, queria ir junto com o pai. Só ouvi a freada e o estouro”, relembrou o avô do garoto de apenas sete anos.
Leomar voltou para o local do acidente e indicou a marca da freada produzida pelo Ford KA, com placa de Novo Hamburgo. “Ele percorreu cerca de 16 metros após atingir o Deivid. O motorista afirmou que vinha em baixa velocidade, em torno de 60 km/h. Eu simplesmente não consigo acreditar nisso”, refletiu Leomar.
O neto teve uma lesão séria no fêmur e precisou passar por duas cirurgias de reconstrução, uma delas levando 12 horas. Deivid está internado no HPS de Porto Alegre, sem previsão de alta, mas com quadro de saúde estável. Segundo a Polícia Civil de Ivoti, o condutor de Novo Hamburgo poderá responder por lesão corporal no trânsito. Um processo de investigação foi aberto e seu carro será encaminhado para perícia.
Neto de Leomar, Deivid ficou ferido após atropelamento no trecho (Créditos: Alex Günther)
Dificuldades em atuar na VRS-865
Por se tratar de uma estrada de competência Estadual, a VRS-865 é fiscalizada pela Polícia Rodoviária de Bom Princípio. Com esta competência, a Brigada Militar do município é impedida de atuar na estrada junto aos condutores, salvo quando há ocorrências relacionadas a crimes de trânsito. O sargento da BM, Elcio Ângelo, destaca a dificuldade que a corporação encontra para trabalhar na prevenção contra o abuso no trânsito. “Muitas vezes observamos os motoristas em alta velocidade e ficamos impedidos de atuar da forma correta, com a emissão da infração, pois seria abuso de poder. Podemos no máximo advertir verbalmente”, informa o sargento.
Ângelo considera a VRS-865 uma estrada perigosa, especialmente no trecho que compreende do letreiro do trevo de entrada até o Ginásio do Soberano, uma reta de aproximadamente dois quilômetros, cujo limite de velocidade é de 50 km/h. “O pessoal não respeita. Quando entram lá em cima, perto do trevo, já descem em alta velocidade pela avenida”, explica.
Para o sargento, a saída para uma fiscalização mais eficiente seria a municipalização da VRS-865, avaliando que desta forma a corporação poderia realizar medidas mais preventivas junto aos motoristas. “Estaríamos autorizados a realizar barreiras no trecho, coibir o comportamento irregular de motoristas através das notificações. Seria excelente para o município”, finalizou.
Prefeitura tem interesse na municipalização
O prefeito Gilmar Führ (Nack) ressalta que o município já entrou com pedido para municipalizar a VRS-865 junto ao Daer-RS no ano retrasado. Há questões referentes ao uso das margens da via, que indicam uma distância a ser respeitada para edificações em rodovias estaduais, mas que não seriam o principal entrave para a formalização. “Nosso principal interesse seria nas sinalizações, especialmente com a construção de lombadas e redutores de velocidade”, avalia o prefeito.
Segundo Nack, o Estado já teria sinalizado de forma positiva ao pedido do município, cedendo a responsabilidade da via e permissão para interceder no trecho. No entanto, a Prefeitura considera que antes de assumir esta responsabilidade, o trecho que cruza o município teria que passar por obras de recapeamento, medida que foi solicitada ao Daer. “Considero que a estrada precisa passar por esta obra antes de assumirmos esta gestão”, avaliou Nack. O órgão estadual foi contatado pelo Diário para comentar sobre a concessão, mas até o fechamento desta edição não respondeu ao jornal.