Lá das colinas de Herval, ecoou uma voz em Harvard: jovem hervalense é destaque nos EUA

“Eu nunca imaginei estar em Harvard. Olhava nos filmes e pensava: ‘só os tops chegam lá’… E eu estava lá. Dei palestra lá. Cheguei chegando, como alguns me disseram.” — Laura Eduarda Mallmann Kieling, 23 anos

A frase dita por Laura não soa como exagero. Vinda de Santa Maria do Herval, cidade com pouco mais de 6 mil habitantes no Vale dos Sinos, a jovem cruzou fronteiras — físicas e simbólicas — ao representar o Brasil na Brazil Conference at Harvard & MIT 2025, uma das conferências mais prestigiadas voltadas para discutir o futuro do país. E ela não foi apenas assistir: foi embaixadora oficial do evento e palestrante, escolhida entre mais de 800 candidatos em um processo seletivo rigoroso.

Estudante de Políticas Públicas na UFRGS e também de Relações Públicas na Unisinos, Laura está no 5º semestre da graduação e já carrega um currículo que impressiona: é bolsista de iniciação científica no Núcleo de Pesquisa em Gestão Municipal (Nupegem) e pesquisa temas como gestão de desastres e inclusão social. Mas foi seu projeto pessoal, o Amigos Inclusivos, que a levou ao palco de Harvard.

painel com a Ana Maria Braga, no palco de Harvard

Encontros inesquecíveis, transformações eternas

“Imagina eu no hotel parada, esperando o elevador… e daí abre o elevador, e quem entra? O Rodrigo Faro! ‘Bom dia, Laura, tudo bem?’ Sabe, coisas assim que eu nunca imaginei viver.”

Durante a semana de conferência, Laura circulou pelos auditórios de Harvard e MIT, conversou com nomes de peso da política, ciência e entretenimento brasileiro — Ana Maria Braga, Anderson Silva, Cacique Raoni, Carlinhos Brown, Daiane dos Santos, Gilmar Mendes, Michel Temer, Paulo Gonet, Roberto Campos Neto, entre outros —, participou de painéis e fez networking com fundações internacionais.

“O pessoal muito bem organizado, a conferência toda organizada… Cerca de 120 estudantes brasileiros que estudam em Harvard, no MIT, em outras universidades.”

A jornada como Jovem Embaixadora

A trajetória internacional de Laura começou em 2020, quando foi selecionada para o programa Jovens Embaixadores. Na época, passou três semanas nos Estados Unidos, visitando quatro cidades, incluindo Washington, D.C., onde participou de oficinas sobre liderança, empreendedorismo, impacto social, além de reuniões com representantes governo norte-americano e apresentações sobre o Brasil.

Foi ali que nasceu o vínculo com a Embaixada dos EUA, e, a partir dessa experiência, surgiu a ideia que mudaria sua vida — e a de muitas crianças.

Amigos Inclusivos: a ideia que virou impacto

Laura, aos nove anos, foi diagnosticada com a Doença de Wilson, uma condição rara.  O tratamento a levou à inúmeras idas ao hospital para tratamento desde então, o que a fez conhecer de perto diferentes condições. “Convivi com muitas crianças com realidades diferentes da minha, vi muitas situações que não são consideradas normais pela sociedade; e vi que até no brincar essas crianças não seriam representadas. Daí que surgiu o Amigos Inclusivos“.

O projeto foi fundado em 2022 e adapta bonecos para crianças com deficiência, representando cadeiras de rodas, aparelhos auditivos, entre outras necessidades. “Cada caso é um caso. Olhamos a criança, não produzimos em larga escala“.

Com financiamento da Embaixada dos EUA e apoio de voluntários — como o professor de informática Eloir Rockenbach, de Dois Irmãos, que imprimiu em 3D as cadeiras e aparelhos — o projeto foi tomando forma e impactando vidas, levando Laura para o epicentro acadêmico do planeta e, agora, a jovem planeja uma expansão com CNPJ, estatuto e estrutura de ONG, viabilizada justamente a partir dos contatos que fez em Harvard.

“Se Deus quiser, agora com os networks que eu fiz, vai virar uma ONG. Vai ter seu estatuto, seu CNPJ. Consegui muita gente que se voluntariou para me ajudar.”

Ela destaca que o objetivo não é tornar os bonecos em algo lucrativo, não pensa em vendas, mas sim usar o método de apadrinhamento para que possa ser doado às famílias que necessitam. “Vocês sabem como a deficiência é cara. A gente precisa estar ali para essas pessoas, dar apoio, condição.”

Laura destacou que todos as famílias de Santa Maria do Herval que se enquadram já foram atendidas, e, agora, está chegando às cidades vizinhas. Já há mais de 20 crianças na fila de espera. “Eu faço isso porque quero que cada criança veja o mundo e saiba que pertence a ele.”

ASSISTA À PARTICIPAÇÃO DE LAURA NO EVENTO:

 “Não é o fim. É o meio.”

“Eles falaram isso muitas vezes lá, que a gente não é pra imaginar essa experiência que a gente passou como o fim. Não é o ponto final. É o meio. Vai abrir muitas portas ainda.”

A fala traduz bem o espírito da conferência. Em meio a tantas vozes e olhares voltados para o futuro do Brasil, Laura viu possibilidades se abrirem: reuniões com Fundação Lemann, Fulbright, Behring, convites para intercâmbios e pós-graduação, e um forte incentivo para trazer tudo isso de volta ao país.

“Eu estou até considerando talvez aplicar para o mestrado… ou quem sabe o doutorado. Mas sempre com o interesse de voltar pro Brasil.”

Reconhecimento em casa: o retorno ao Herval

Apesar da grandiosidade da experiência em Harvard, Laura segue com os pés no chão e o coração no seu lugar de origem.

“Estou saindo na rua desde que eu voltei ontem de manhã e o pessoal está me tratando muito bem. Tive uma recepção calorosa já no aeroporto com meus pais, minha tia, meu noivo… É um momento que eu prezo muito, estou muito feliz de estar de volta.”

 Chegou chegando — e vai muito mais longe

A história de Laura é sobre acesso, visibilidade e representatividade. É sobre quebrar estereótipos de quem nasce no interior e mostrar que, com oportunidade, apoio e coragem, o mundo pode ser palco de quem quer mudar sua comunidade. E Laura já mudou. O futuro é apenas consequência.

Selfie dos Embaixadores com a Ana Maria e seu esposo

Laura com o ex-presidente Temer e o ministro do STF Gilmar Mendes

Laura com a professora brasileira de Saúde Pública em Harvard, Márcia Castro e a Presidente da Academia Brasileira de Ciências, professora Helena Nader

Os Embaixadores da Brazil Conference 2025 com alguns da equipe