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Região

64 anos de Dois Irmãos: Tia Líria e as danças do folclore alemão: a construção da identidade de um povo

10/09/2023 - 06h50min

Líria Lúcia Lawisch: histórias de vida para preencher um livro

A educadora que viu e fez parte do crescimento da comunidade dois-irmonense.

Por Nicole Pandolfo

 

No ano de 1959, Dois Irmãos, ainda 3º distrito de São Leopoldo, não tinha ruas asfaltadas. Era em estradas de chão batido que uma menina de 13 anos de idade caminhava a pé da sua casa até o Colégio Imaculado Coração de Maria para cursar o antigo primário. No percurso, ela viu os carros de som anunciarem o plebiscito que decidiria o futuro da comunidade e ouviu os foguetes que comemoraram a emancipação de Dois Irmãos.

Foi quase um Kerb!” descreve Líria Lúcia Lawisch, a então menina que assistiu à chegada da comissão que trouxe o anúncio da vitória do “sim”! A festa que seguiu à notícia carregava a esperança de autonomia e crescimento da região. Líria assistiria de muito perto este desenvolvimento acontecer e, inclusive, viria a ter papel fundamental na construção da identidade dos futuros dois-irmonenses.

A DESCOBERTA COMO EDUCADORA

O convite para lecionar veio do então Secretário da Educação Plínio Weber quando ela tinha 18 anos e acabara de cursar o antigo ginásio. Além de costurar calçados e cortar cabelos em casa, Líria passou a dar aula em uma “brizoleta”, como eram conhecidas as diversas escolas construídas no estado, na década de 60, durante o governo de Leonel Brizola – de madeira, com uma ou duas salas de aula e um pequeno espaço para o preparo da merenda escolar. Mas este foi só o início da experiência da professora que encontrou na educação o seu maior propósito.

O disco de cantigas folclóricas que embalaram o primeiro grupo de dança do colégio 10 de Setembro

O RESGATE DAS ORIGENS

Durante as preparações para a comemoração dos 150 anos da Imigração Alemã, em 1979, Tia Líria, como passou a ser conhecida, sentiu falta de uma apresentação de dança típica da cultura germânica. Com um disco de cantigas folclóricas para crianças e a ajuda de um casal de missionários vindos do país europeu, guiou seus alunos a uma apresentação cujo sucesso repercutiria no resgate da cultura de toda a comunidade. Com o interesse cada vez maior da população pela dança folclórica alemã, em meados dos anos 80, as aulas da Tia Líria atravessaram os muros da Escola 10 de Setembro e deram origem ao Grupo Folclórico Dois Irmãos, criado por decreto do Prefeito.

Foi uma época de um movimento muito grande pela recuperação da cultura da dança em toda região”, conta Tia Líria. Ela ressalta que contava com pleno apoio dos governantes da época em todos os processos do trabalho, inclusive custeando cursos de especialização no Departamento de Cultura Alemã em Gramado.

Os “Alemãezinhos do 10” – Tia Líria à direita

Cartilha de apresentação do Grupo Liebe Zum Tanz

O IMPACTO DA CULTURA

No final dos anos 80, já com um grupo de dança independente, o Liebe Zum Tanz, Tia Líria e seus alunos empreenderam em uma jornada de apresentações em festivais que encantava a todos que os assistiam. O grupo atrelado à Sociedade dos Atiradores também passou a representar a Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos – e continuou a expandir seu território até chegar na Alemanha, em uma experiência de intercâmbio cultural descrita por Líria como nada menos que “fantástica!”.

Eu fiz eles se entenderem como irmãos”, conta com orgulho sobre a harmonia entre os integrantes. Até hoje eles costumam se reencontrar. “Todos prosperaram na vida”, diz Tia Líria. Quando questionada sobre qual seria o motivo da coincidência do sucesso a todos do antigo grupo, ela explica: 

A cultura é um passo gigante para se ter um futuro melhor”

Das viagens que fez para a Alemanha, Líria relembra o modo como foi acolhida pelos amigos e colegas de lá. Descreve a organização impecável dos que a receberam e garantiram que ela tivesse uma experiência cultural completa. Diz que adoraria voltar, mas não para morar: “Eu amo o meu país, eu amo o meu estado, eu amo a minha cidade.”

Tia Líria (ao centro) em visita à Alemanha

Sobre a importância da preservação da cultura dos antepassados germânicos através da dança, ela afirma: “Um povo sem cultura é um povo sem luz. A dança é um elemento forte do encontro. Tu te encontras e participa um com o outro para os dois se saírem bem.”

Hoje, Tia Líria atua como coordenadora do Grupo de Idosos Reviver e diz que adoraria ver alguém assumir a liderança em novos grupos de dança na região: “Estou disposta a ajudar no que precisar!”.

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