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Ford anuncia que vai fechar suas fábricas no Brasil

12/01/2021 - 07h12min

Atualizada em 12/01/2021 - 07h22min

Em 2019, a Ford havia fechado a sua fábrica em São Bernardo do Campo. (Foto: Miguel SCHINCARIOL / AFP)

Brasil – A Ford anunciou na tarde da segunda-feira, 11, que vai fechar as fábricas de Camaçari, na Bahia, de Taubaté, em São Paulo, e de Horizonte, no Ceará, em 2021, devido à “persistente capacidade ociosa da indústria e a redução das vendas, resultando em anos de perdas significativas”, segundo a empresa. A fábrica de Camaçari foi inaugurada em 2001, após desistir de inaugurar as suas operações em Guaíba, no Rio Grande do Sul.

“Estamos mudando para um modelo de negócios ágil e enxuto ao encerrar a produção no Brasil, atendendo nossos consumidores com alguns dos produtos mais empolgantes do nosso portfólio global. Vamos também acelerar a disponibilidade dos benefícios trazidos pela conectividade, eletrificação e tecnologias autônomas suprindo, de forma eficaz, a necessidade de veículos ambientalmente mais eficientes e seguros no futuro”, disse Jim Farley, CEO da Ford, em comunicado enviado à imprensa.

Ainda segundo o comunicado, as plantas da Bahia e de São Paulo serão encerradas imediatamente, mantendo-se apenas a fabricação de peças por alguns meses para garantir disponibilidade dos estoques de pós-venda.

“A fábrica da Troller em Horizonte continuará operando até o quarto trimestre de 2021. Como resultado, a Ford encerrará as vendas do EcoSport, Ka e T4 assim que terminarem os estoques. As operações de manufatura na Argentina e no Uruguai e as organizações de vendas em outros mercados da América do Sul não serão impactadas”, declarou o comunicado.

O fechamento das plantas implicará na perda de cerca de 5 mil empregos. A empresa afirma que o impacto nas operações será de cerca de US$ 4,1 bilhões em despesas não recorrentes somando 2020 e 2021.

“Aproximadamente US$ 1,6 bilhão será relacionado ao impacto contábil atribuído à baixa de créditos fiscais, depreciação acelerada e amortização de ativos fixos. Os valores remanescentes de aproximadamente US$ 2,5 bilhões impactarão diretamente o caixa e estão, em sua maioria, relacionados a compensações, rescisões, acordos e outros pagamentos”, afirmou a empresa.

 As vendas do EcoSport e do Ka serão encerradas assim que terminarem os estoques. A empresa informa que vai trabalhar “imediatamente” em colaboração com os sindicatos e outros parceiros no desenvolvimento de um plano “justo e equilibrado” para minimizar os impactos do encerramento da produção.

Reestruturação

Em 2019, a Ford encerrou a sua fábrica em São Bernardo do Campo (SP) e, por consequência, a produção de caminhões e dos carros Fiesta. Em 2020, a empresa vendeu 119.454 veículos no Brasil, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), uma perda de 39,2% em relação a 2019.

A decisão de fechar as linhas de manufaturas brasileiras segue uma reestruturação dos negócios na América do Sul. A montadora diz que seguirá importando no Brasil utilitários esportivos, picapes, como a Ranger, e veículos comerciais de fábricas da Argentina, Uruguai e outras origens, mantendo “assistência total” ao consumidor brasileiro com operações de vendas, serviços, peças de reposição e garantia. Informou ainda que planeja acelerar o lançamento de diversos novos modelos conectados e eletrificados.

A Ford foi a primeira montadora de automóveis a ser instalada no Brasil, em 1919, quando passou a produzir modelos T em São Paulo. Em 1921, a montadora instalou uma fábrica no bairro do Bom Retiro, também na capital paulista, que foi a primeira a fazer veículos em série. Nos anos 20, o fundador da companhia, Henry Ford, chegou a criar uma vila chamada Fordlândia para explorar a produção de borracha para fabricação de pneus, no meio da floresta amazônica. O projeto foi abandonado em 1933.

Polêmica no RS

Na história da Ford no Brasil há uma passagem polêmica. Em 1998, o governo Antônio Britto (então PMDB) assinou com a montadora contrato para instalação de uma fábrica de automóveis em Guaíba, além de um financiamento com o Banrisul de R$ 210 milhões

Já no ano seguinte, na gestão de Olívio Dutra (PT), após pagamento da primeira parcela (R$ 42 milhões), a Ford se retirou do negócio sob alegação de que o governo estadual estava em atraso no desembolso da segunda parcela e motivos de ordem política com a nova administração.

O governo Olívio alegou que a empresa não cumpria o acordo e que não concordava com cláusulas assinadas pela gestão anterior. A Ford acabou trocando o Rio Grande do Sul pela Bahia, com instalação de fábrica em Camaçari.

Em fevereiro de 2000, o governo gaúcho ajuizou ação contra a Ford. Após quase 16 anos em tramitação no Judiciário, o governo do Rio Grande do Sul e a Ford entraram em acordo, homologado em novembro de 2016 pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), estabelecendo o pagamento de R$ 216 milhões pela empresa aos cofres públicos gaúchos.

* Com informações de Gaúcha ZH.

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