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Família Scholles em Dois Irmãos: entre campos e quadros

16/09/2022 - 15h46min

Atualizada em 16/09/2022 - 15h49min

Waléria Scholles Berlitz e Egon Lauro Berlitz na frente da casa em que moram. Créditos: Giordanna Benkenstein Vallejos

Por Giordanna Benkenstein Vallejos

 

Foto tirada em 2012, do local onde os pais de Márcia vivem, no bairro Travessão. Créditos: Giordanna Benkenstein Vallejos

Para chegar na propriedade da família Scholles, no Travessão, é preciso passar por uma belíssima e sinuosa estrada, com muros feitos de pedras em toda a sua extensão. É como se essas taipas antigas fossem uma passagem entre o passado e o presente. Chegando no espaço, que parece isolado do resto da cidade, a paisagem fica completamente campestre e histórica.

Logo na entrada, uma porteira abre caminho para um potreiro e os cavalos pastando. Em sequência, é possível ver galpões antigos, que eram usados para a criação de animais, adornados com vasos de flores. Bem no fim, está a casa histórica da família. Lá mora o casal Waléria Scholles Berlitz e Egon Lauro Berlitz, casados há quase 60 anos.

Márcia Regina Berlitz Blume é uma entre os três filhos que tiveram. Depois de oferecer bolinhos de batata, que representam para ela uma herança da cultura alemã no município, Márcia começa a contar sobre seus ancestrais. Ela conta que o nome Scholles têm seu significado atrelado a cobrador de impostos do rei e que a região de onde saíram os Scholles chamava-se Hunsrick.  O imigrante que veio da Alemanha chamava-se Martin Scholles.

 

Ancestrais

Márcia Regina Berlitz Blume gosta de estar presente para apoiar os pais. Créditos: Giordanna Benkenstein Vallejos

 

Willibaldo João Scholles e Malvina Bool Scholles são os avós de Márcia. Eles tiveram onze filhos e eram católicos. João Scholles e Maria Scholles são os bisavôs dela. Eles viviam no bairro Vila Rosa. João era também muito católico. Dizem que ele gostava de ler e não concordava com as ideias de Hitler. Martin Scholles, por sua vez, é o tataravô de Márcia e o imigrante que veio da Alemanha. Johan Scholles e Margaretha Benz são os trisavós.

 

 

Flávio Scholles

Filho de Anna Kieling Scholles e Carlos Scholles, o artista Flávio Scholles tem como ancestral Martin Scholles. Além disso, possui ligação com a história da família Kieling, pois também é descendente de Anton Kieling. Ele possui mais 10 mil telas distribuídas pelo mundo e um respeitável acervo em seu atelier, em São José do Herval. Seu trabalho como artista ajudou a exaltar ainda mais o nome e a relevância da família Scholles.

 

 

A beleza do interior

Casa da família Scholles, construída em 1935. Créditos: Giordanna Benkenstein Vallejos

 

Martin Scholles veio da Alemanha, da cidade de Warmsroth e nasceu em 1815. Foi casado com Catharina Dupont. A segunda esposa, após Catharina falecer, foi Marianna Sehn. Martin veio no navio para o Brasil, em 1854, com mais oito pessoas. A foto dele está no Museu de São Leopoldo. A viagem demorou cerca de oito meses. Ele fundou, com outros imigrantes, São José do Herval (Morro Reuter).

No Brasil, Martin teve quatorze filhos. Márcia disse que ele tinha muitas filhas e que as pessoas mais idosas inventaram uma bandinha chamada “As filhas do Scholles”. As filhas de Martin casaram-se com pretendentes com os sobrenomes: Alles, Staudt, Kolling e Altenhofen.

No presente, os pais de Márcia, Waléria Scholles Berlitz e Egon Lauro Berlitz, de 81 e 80 anos, moram no Travessão. Waléria conta que nasceu na mesma casa em que mora até hoje. Ela aponta para os azulejos azuis na parede e explica que estão lá desde que ela tinha 12 anos. “As coisas de antigamente eram feitas para durar. ”, disse ela. O antigo Armazém Scholles, era propriedade do avô de Waléria.

A casa da família Scholles tinha 38 hectares de terra. Nesse local, os pais de Waléria tiraram o sustento por meio do trabalho como agricultores. Apesar de todos terem tido o exemplo dos pais, ela foi a única dos onze filhos que decidiu continuar vivendo da agricultura. Antigamente, eles produziam leite, cultivavam batatas e cebolas. “Cultivávamos para o nosso sustento e o que sobrava a gente vendia. ”, conta ela.

O que mudou, na visão do casal, foi que as pessoas se conheciam antes, e agora com o crescimento da cidade, nem sempre se conhecem. Além disso, Waléria explica que nunca ganhou um beijo ou um colo dos próprios pais, que os filhos tinham que trabalhar desde os seis anos no campo e cuidar um do outro. “Hoje em dia são as crianças que mandam nos pais. ”, disse Egon Lauro Berlitz, entre risadas.

 

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