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Produtos orgânicos são a escolha na produção familiar em Lindolfo Collor
Lindolfo Collor – A história se repete. O avô era produtor. O pai cresceu na roça. Casou e a esposa também pegou junto. Vieram os filhos. Um resolveu ficar e continuar o negócio. Os itens cultivados também não são diferentes. Hortaliças e frutas são plantadas, colhidas e depois vendidas. A renda a partir do ciclo da agricultura familiar. Iguais a tantas outras famílias da região. Contudo, um detalhe dessa história chama a atenção.
Não usar agrotóxicos e levantar a bandeira dos produtos orgânicos. Esse é o resultado do trabalho da Família Spaniol, da localidade de 14 Colônias. Atualmente, os Orgânicos Spaniol são os únicos do município com Certificado de Conformidade Orgânica para o Mercado Brasileiro.
Seu Lauro, de 72 anos, conta que trabalha no campo desde os 7 anos de idade. Segundo ele, na sua família, nunca foi usado algum tipo de agrotóxico ou veneno. “É algo que faz mal para o corpo, para quem planta e quem consome ao longo do tempo. Não faz bem para a terra, à planta e aos animais. Não tem motivos para querer usar isso”, declara.
De acordo com os Spaniol, a família chega na terceira geração com a mesma ideia. Não usar nenhum tipo de veneno para preparar a terra, para matar o inço ou para proteger os alimentos plantados contra pragas. “É bem simples, a gente não usa porque sabemos que faz mal”, explica o filho mais novo, João, 33, que trabalha junto no campo.
Liria diz que a vida toda trabalhou assim e que não há necessidade do uso de agrotóxico (Créd. Rafael Petry)
Produção
Com simplicidade. Assim que é possível definir o sistema de produção dos Spaniol. João conta que o único item utilizado é o esterco, que é comprado de aviários da região. Eles preparam a terra com o sistema da compostagem laminar, onde a terra fica coberta, e esperam o tempo de descanso. A partir disso, as mudas são plantadas.
Então esperam. Enquanto uma cultura cresce, outros canteiros são preparados e outros itens são colhidos. “Não usamos nenhum tipo de irrigação. Contamos apenas com a água da chuva, até porque não temos gente suficiente para tudo isso”, comenta. Além disso, a família também aposta na rotação de cultura e não se preocupa tanto com o inço. “Fazemos a troca para a terra descansar e continuar boa, sem matar ela. O inço a gente tira quando vai preparar, depois vamos tirando até a muda vir e crescer, aí já não atrapalha mais tanto”, conta João.
Sem a utilização de venenos, a família admite que alguns contratempos podem acontecer. “O que traz um pouco mais de dificuldade são as pragas durante o verão. Esteticamente o resultado é o mesmo quando comparada com um produto que tem agrotóxico”, diz João. “Acabamos perdendo um pouco mais, sim, mas nunca perdemos tudo”, completa. “Já vi casos de gente que passa veneno em repolho, por exemplo, e perde mais que nós”.
Melhorias
Hoje a produção conta com uma organização. O tempo para plantio e colheita é controlado. “Antigamente era plantado sem muito planejamento. Neste ano começamos a mudar. Agora a cada 14 dias nós repetimos o plantio. Assim chega um ponto que estamos sempre com algo para colher no momento certo e para plantar para repor. E ainda um espaço para a terra descansar”, explicam.
Além disso, os recursos tecnológicos têm colaborado com o trabalho. “Antigamente fazíamos os canteiros com pá e inchada. Era tudo de maneira manual. Hoje conseguimos melhorar o serviço com a ajuda de um trator e o espalhador de esterco”, diz João. Atualmente são 2,2 hectares de terra para o plantio de hortaliças e 5 hectares para a produção de citricultura.
Venda
Atualmente os produtos são vendidos em três lugares: Para as escolas do município, na Feira do Produtor em Novo Hamburgo e para a Associação Educacional Cidade das Flores em Canela. Além dos três, os Spaniol contam com mais uma pessoa que colabora com o transporte dos itens e a distribuição das hortaliças e das frutas.
Mesmo com o selo que garante a origem do produto orgânico, os Spaniol comentam das dificuldades para a venda. “Infelizmente as pessoas ainda ficam um pouco desconfiadas. Então de certa forma não conseguimos colocar o valor de venda que realmente deveria ter. Acaba tendo um tipo de restrição”, conta João.
Lauro, Liria e João tocam sozinhos a produção (Créd. Rafael Petry)
País
Segundo informações do Ministério da Agricultura, os alimentos orgânicos, vendidos em embalagem ou mesmo a granel, devem apresentar o selo ou sinalização de “Produto Orgânico Brasil”, que identifica a certificação do Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica (SisOrg). A presença do selo atesta que durante cultivo e produção do alimento, de origem vegetal ou animal, processados ou não, não houve uso de insumos químicos, transgênicos e tóxicos.
Incentivo e apoio
Buscando melhorar os recursos para o trabalho e a qualidade de vida, a Família Spaniol já utilizou das cartas de crédito da Sicredi. “Com o empréstimo pelo Mais Alimento, conseguimos financiar a Savero que nos ajuda a transportar pequenas encomendas”, conta João. A Sicredi conta com uma série de opções de crédito com o objetivo de colaborar com a ampliação da produção e o trabalho dos produtores.