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30 Anos, 30 Histórias: o dia em que Nova Petrópolis fez parte dos Jogos Olímpicos

20/01/2023 - 09h57min

Atualizada em 20/01/2023 - 10h27min

Por Dário Gonçalves e Gian Baum

Nova Petrópolis – Desde 2011, o município convive com o acendimento de uma chama, que espalha a tradição e cultura entre os povos: a chama do Festival Internacional de Folclore. Mas em 2016, precisamente no dia 8 de julho, outro fogo percorreu Nova Petrópolis, este aceso na Grécia, pelo próprio sol: o fogo da Tocha Olímpica das Olimpíadas Rio 2016.

A Rio 2016 foi disputada em agosto daquele ano, mas pode-se dizer que o evento iniciou-se muito antes disso, principalmente para Nova Petrópolis. Após receber convite, o então prefeito Regis Luiz Hahn (Lelo), o diretor de Desporto, Luiz Port, e outras pessoas da Administração Municipal, estiveram em Brasília no dia 3 de julho de 2015, praticamente um ano antes, para assinar o compromisso de ser uma das cidades por onde a tocha olímpica passaria. “Confesso que tremi quando recebi o convite, não tem como mensurar. Nova Petrópolis seria vista pelo mundo”, conta Lelo.

Ex-prefeito Lelo relê a matéria de 2015, quando oficializou, em Brasília, Nova Petrópolis como parte do revezamento (Créd.: Dário Gonçalves)

Até aquele momento, somente cinco grandes cidades do Rio Grande do Sul haviam sido anunciadas. Elas eram as “Cidades de Celebração”, onde a chama “dormiria” até iniciar o próximo trajeto. Oficialmente convidado, o município tratou de começar os trabalhos para receber o revezamento.

Faltava apenas um ano e era preciso definir o percurso e apresentá-lo como proposta ao Comitê Olímpico para ser avaliado. Além disso, Nova Petrópolis deveria escolher dois representantes para carregar a chama das Olimpíadas. E quem teve a honra foram o empresário Virgílio Kehl e o atleta Fábio Roese.

E é sobre este dia histórico, que reuniu milhares de pessoas e que mostrou Nova Petrópolis ao mundo, que O Diário aborda nesta reportagem especial de 30 Anos, 30 histórias que marcaram o jornal.

Preparativos

Ex-prefeito Lelo, com sua neta Helena, relembra o momento histórico (Créd.: Dário Gonçalves)

A Tocha Olímpica passou por 329 cidades brasileiras, de todas as regiões, e por 28 no Rio Grande do Sul. Na Serra, fizeram parte Bento Gonçalves, Canela, Caxias do Sul, Gramado e, é claro, Nova Petrópolis. Cerca de 12 mil condutores fizeram o revezamento pelo Brasil, inclusive nomes como Romário, Zagallo e Pelé, entre tantos outros atletas e personalidades, além de Virgílio e Fábio.

Em 29 de março de 2016, Lelo, Luiz, o secretário de Administração, Bruno Seger, e o integrante do Departamento Municipal de Cultura, Éderson Moreira dos Santos, conhecido como Gaudêncio Terra, participaram da reunião do Comitê de Revezamento da Tocha Olímpica, na Assembleia Legislativa, em Porto Alegre. Na ocasião, Nova Petrópolis apresentou a história que seria construída com a passagem da Tocha Olímpica e o roteiro que percorreria. “Todo mundo se empenhou, colocou força para que fosse possível colocar Nova Petrópolis na história”, disse o então prefeito.

Uma semana antes da passagem, o município simulou o revezamento pelo roteiro criado por Gerson Gebhardt, então adjunto da Administração, com apoio da Polícia Rodoviária Federal, Brigada Militar, Bombeiros Voluntários e Prefeitura. A essa altura, a chama que chegou ao Brasil no dia 21 de abril e vinha percorrendo o país, já estava em Santa Catarina e prestes a chegar ao Estado.

O Grande dia

Milhares de pessoas prestigiaram a passagem (Créd.: Gian Wagner Baum)

A Chama Olímpica entrou no Rio Grande do Sul no dia 3 de julho de 2016, por Erechim, e o primeiro a carregar foi o goleiro tetracampeão mundial com a Seleção Brasileira, Gilmar Rinaldi, natural de lá. Passou por 23 cidades até chegar em Nova Petrópolis, no dia 8.

O revezamento no Jardim da Serra Gaúcha deveria começar por volta das 15h30, assim, o entorno da Avenida XV de Novembro, Praça das Flores e Rua Coberta recebeu milhares de pessoas. O trânsito foi bloqueado para os carros e, de acordo com dados da Brigada Militar, em torno de 10 a 12 mil pessoas se fizeram presentes para este momento histórico. “Lembro que tivemos que comprar cones para bloquear as ruas porque não tínhamos o suficiente. As pessoas começaram a se juntar e, na época tínhamos pouco mais de 20 mil habitantes, então era como se metade da cidade estivesse ali”, relembra Lelo.

No entanto, o revezamento atrasou e só foi começar às 17h25, quase duas horas após o previsto. Isso gerou tensão e apreensão de que o planejamento não pudesse ser executado, uma vez que o encerramento ocorreria com um voo de paramotor do Ninho das Águias até a Linha Temerária com Fábio levando a centelha para ser entregue a Caxias do Sul.

Os condutores

Gabriel, Mauren e Diana passaram a chama a Virgílio (Créd.: Gian Wagner Baum)

Virgílio e Fábio foram os escolhidos pelo Município devido aos seus envolvimentos comunitários e esportivos. Além deles, Johnatan Ricardo Rauber, Simone Lessa Parceiros, Adriano Schneider, Lenon Pianta e Lurdes Kitadai, também levaram a tocha pela Avenida até a Torre de Informações. Estes foram escolhidos pelo Comitê Olímpico e pelos patrocinadores.

Os alunos do município Diana Rache, Mauren Gava e Gabriel de Oliveira deram início ao acenderem a tocha com o fogo trazido de Canela e passá-lo a Virgílio Kehl. Hoje, quase sete anos depois, ele recorda a experiência: “Foi um momento muito legal, muito especial”, conta. Tocha acesa, Virgílio começou seu percurso, adentrou a praça e correu em direção ao labirinto.

Somente a ponta da chama era vista por quem acompanhava do lado de fora até ele reaparecer, no centro do atrativo turístico, e provocar a vibração do grande público que se aglomerou ao redor do labirinto. “Foi uma sensação muito boa, aquela vibração do pessoal. Muita gente estava lá para ver a passagem da tocha e aquela presença em massa foi um diferencial muito grande”, afirma.

Virgílio carrega no coração as lembranças daquele dia e adquiriu para si uma das tochas, que está guardada junto com a roupa que usou no dia. Em período de Olimpíadas, como em 2021, o empresário expôs orgulhoso os itens em sua loja, a Germânia. “Só tenho a agradecer pelo convite. Quando recebi fiquei sem saber o que dizer. É uma honra muito grande fazer parte desse momento histórico para Nova Petrópolis”, disse.

Grande apoiador do esporte, a empresa de Virgílio patrocina o vôlei da cidade, esporte em que é bastante engajado. Também esteve na linha de frente de entidades importantes, como a ACINP. “O esporte, primeiro, precisa formar cidadãos. Formar atleta é consequência”, finaliza.

Voando com a Chama Olímpica

Fábio e o instrutor Flavio durante o voo (Créd.: Jonas Ramos/Agência RBS)

Fábio Roese, atleta e integrante do Projeto Vôlei, foi o último condutor da Chama em Nova Petrópolis. Ele literalmente voou com a fogo das Olimpíadas juntamente ao piloto Flavio Lyszkowski Pinheiro. Daquele dia, Fábio carrega muitas boas lembranças e é grato por poder ter participado de um revezamento olímpico. “A experiência de ser um condutor da Chama Olímpica é a melhor possível. Participar do maior evento esportivo do planeta e ser um dos condutores foi um dos momentos mais marcantes da minha trajetória no esporte”, conta ele quase sete anos depois.

Fábio também descreve os principais momentos que guarda daquela data especial: “Foram dois: na largada do voo, ver minha família comigo nesse momento, e durante o voo, onde a única luz que tínhamos era o fogo olímpico, uma emoção indescritível”, relata. Isso porque, com o atraso o voo só começou às 18h40, minutos antes do pôr do sol e, ao pousar na Linha Temerária, já era noite. Assim, quem olhasse para o céu naquele instante, poderia ver o brilho do fogo Olímpico sobre os céus de Nova Petrópolis.

“O voo no Ninho das Águias foi emocionante! Ter tido a oportunidade de conduzir a Chama durante o voo ao entardecer foi um momento de muita alegria e reflexão, somente agradecer por ter sido um dos escolhidos para esse momento histórico para a cidade e para os Jogos Olímpicos Rio 2016”, finaliza.

Acompanhando de longe

Naquele ano, o prefeito Lelo estava em seu último ano de seu primeiro mandato e estava prestes a concorrer a reeleição. Por conta disso, mesmo sendo o Chefe do Executivo, não pôde ficar perto da Tocha. “O mais próximo que cheguei no dia foi cerca de três ou quatro metros. Tivemos também um evento na Rua Coberta, mas eu sempre via de longe porque se não isso poderia ser visto como uma manobra de eleição”, conta.

Após o nervosismo durante todo o dia, Lelo recebeu uma ligação de quem estava na Linha Temerária e informou que a missão havia sido concluída. “Eu virei para o Gerson (Gebhardt) e disse: ‘agora sim podemos comemorar’. Foi um sentimento muito bom”, conclui o ex-prefeito.

A cobertura d’O Diário

Um evento de tamanho porte exigiu também uma “força-tarefa” por parte dos repórteres de Nova Petrópolis. A passagem foi numa sexta-feira, um dia que costuma ser mais tranquilo por não ter fechamento de edição para o dia seguinte. Mas aquela sexta-feira foi diferente.

Francis Limberger era repórter na sucursal de Nova Petrópolis e reuniu os dois colegas, Gian Baum e Jéssica Zang, para traçar um plano de cobertura. Era sabido que seria tudo muito rápido, com o revezamento começando em frente à Praça das Flores e encerrando no campo de pouso da Linha Temerária. Para cobrir, era preciso posicionar os repórteres corretamente.

Gian começou e terminou o percurso. Francis ficou responsável pelo trajeto da avenida e Jéssica, horas antes, havia ido para o Ninho das Águias onde acompanharia a decolagem do fogo. Vale lembrar que a Av. XV de Novembro em direção a saída da cidade estava fechada e Jéssica precisou ir (bem) mais cedo e aguardar seu momento de cobrir o revezamento histórico.

Na praça, os três alunos da rede de ensino acenderam a tocha que Virgílio carregava. “Eu fiz parte do trajeto correndo de costas para fotografar e filmar ao mesmo tempo”, lembra Gian. Virgílio correu com a tocha e fez o percurso da Avenida ao centro do labirinto e de volta à Rua Coberta. Neste momento Gian estava onde era a Casa do Artesão e, de lá, foi feita a foto que ilustrou a capa da edição seguinte e um vídeo que chegou a mais de 100 mil pessoas no Facebook e também transmitido pela televisão.

Enquanto Francis começava a etapa dele do percurso, acompanhando a saída da Rua Coberta até o viaduto da BR-116, Gian foi de moto do Centro até a Linha Temerária. O trânsito estava trancado no Centro e para isso precisou ir por uma trilha (que hoje é uma estrada de terra de mão única) que liga o bairro Bela Vista à BR-116. O repórter chegou no campo de pouso e os pilotos saíram do Ninho com Fábio carregando a Chama Olímpica pelo céu.

O pouso foi uma mistura de emoção e alegria entre os presentes por estarem fazendo parte da história das Olimpíadas e de Nova Petrópolis. Da Linha Temerária, o fogo foi levado à Caxias do Sul onde deu continuidade no dia seguinte ao revezamento que passou por todo o País.

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